Mais um texto do confrade Karlos Guedes:
Um princípio basilar do espiritismo é o da reencarnação. Aqui não falo especificamente do kardecismo, mas de todas as doutrinas espíritas.
Antes de tudo, darei a definição de reencarnação. Reencarnação é a crença de que, após a morte, a alma de um ser humano retorna à vida com outro corpo. Há também a metempsicose, variação desta doutrina, que é o renascimento ou retorno sob a forma de outras espécies.
Considerando o absurdo ululante da segunda crença, analisaremos somente a primeira. Fá-lo-ei pela razão, não usarei nenhuma citação do Magistério infalível da Igreja ou das fontes da Revelação.
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Supondo que o espiritismo esteja correto, a união do espírito com o corpo (a vida neste século) não pode ser uma união substancial. Nesta suposição, a substância humana seria apenas o seu espírito, excluindo o corpo como componente, pois o espírito possuirá muitos outros, impedindo, com isso, que ele seja parte da substância humana.
Quais as consequências disto? Não existiriam Anjos: toda a criação racional seria composta pelos homens.
Mas se a substância humana é apenas o espírito, isso faria do homem uma forma pura (puro espírito), pois que existe sem composição com a matéria. Ou seja, o homem seria ontologicamente impossibilitado de mudança substancial, pois, como forma pura, seria tudo o que ele pode ser.
Ademais, a inteligência e o modo de conhecer de uma forma pura independem do tempo. Ela não apreende por sucessão; vislumbra tudo num só ato, pois ou é ou não é. E, quando decide, não se arrepende, porque nela não incidi o hábito tampouco a paixão.
Se isso fosse verdade, qual seria a necessidade de reencarnações? Digo mais: de uma ENCARNAÇÃO, sequer?
Ainda, a experiência mostra que os homens mudam de opinião; aumentam um conhecimento sobre algo; e conhecem através dos sentidos.
Mudar de opinião é próprio de quem ignora algo, que decide por algo de maneira não decisiva e certa. Ação impossível a uma forma pura. Aumentar o conhecimento é submeter a inteligência à sucessão, o que é incompatível com o ser de uma forma pura. Conhecer algo necessariamente pelos sentidos é totalmente inconciliável com o modo de agir, com a natureza de uma forma pura! Admitir isto é afirmar que a matéria faz parte da natureza do ser em questão, ou seja, a união da matéria com a forma constitui uma substância única, completa e composta.
Logo, o homem ser uma forma pura, ou seja, existir a reencarnação, é um absurdo lógico!
Concluindo, pois, que a reencarnação é uma ilogicidade (embora o kardecismo se revista de um ar de [pseudo] intelectualidade), ou seja, que o espírito humano não é uma forma pura, ele precisa, portanto, informar algo. Essa necessidade é uma deficiência do seu ser. Para que se realize, ele tem que unir-se como forma de outro ser, que lhe faz a “função” de matéria. Essa matéria é o corpo de cada ser humano. Então, o espírito e o corpo formam entre si a relação de forma e matéria (ato e potência) do homem. Essa união É UM SER COMPLETO.
Como é um ser completo, essa união é substancial. Por isso, o espírito não pode informar outro corpo (note-se que não é isso que ocorre na ressurreição dos mortos, verdade proposta pela Santa Igreja no undécimo artigo do Símbolo). O espírito, que não muda, sempre informará “da mesma maneira”, o que exclui a reencarnação (pois que nela voltamos em outros corpos).
Alegremo-nos por ver a perfeição da doutrina eclesiástica, a origem divina da Revelação! A ressurreição da carne e a re-união do nosso mesmo corpo com o espírito é uma obrigação da nossa natureza, a fim de completá-la. Alegremo-nos também porque por ela chegamos ao horror do pecado, que nos mereceu a mote (separação desta realidade substancial). Alegremo-nos, por fim, porque diante dela cai a falsidade disseminada pelo pai da mentira, homicida desde o princípio (cf. Jo VIII,44).