Remexendo velhos recortes de jornal encontrei ume texto do Prof. Ângelo Monteiro de 2012 (21 de janeiro, Jornal do Commercio) que apesar de ter quase quatro anos está cada vez mais atual, visto que o mal que ele identifica só se agudizou, como no caso da tal “ideologia de gênero”. Vamos a ele:
Somente com a morte do grande guia Kim Jong-il e seu interminável funeral é que poderíamos visualizar a verdadeira dimensão de uma ideologia em seu caráter principalmente mortal. Nada mais patético que o pranto de uma multidão ante a morte de um sinistro e sanguinolento ditador: é como se todos fossem compelidos, além de suportar seu terrível tipo de vida, a se sujeitar a tal morte para readquirir a própria sobrevivência. Ou como se o Inferno estivesse chorando a despedida de Satanás por temer sua ainda mais perigosa ressurreição: no caso a substituição de Kim Jong-il por Kim Jong-un.
Depois da experiência da revolução cultural maoista – que fechou conservatórios e bibliotecas, chegando até mesmo a queimar discionários, para que os chineses perdessem inteiramente o sentido das palacras -, a Coréia do Norte conseguiu converter o funeral do seu dirigente supremo numa espécie de glorificação de um sistema que se alimente justamente de suas vítimas, fazendo das lágrimas de uma dor, temerosa da sua própria expressão gestual, o símbolo mais completo de sua essência ideológica. Talvez por adivinhar o pior dos futuros, o nosso povo, em certa época, para sua sorte, não se deixou enganar pela sereia comunista, já que, entre nós, essa vocação para subserviência, de dimensão continental, terminaria por transformar o Brasil em outra China, se acaso uma certa esquerda houvesse tomado o poder.
Mas a nossa revolução cultural – como não foi produzida por Mao, na China, nem, muito menos, pela disnatia Kim, na Coréia do Norte, e sim por Branchu -, em vez da destruição física dos dissidentes, contenta-se apenas com uma progressiva imbecilização que promete, de forma gradual, acabar em vida com todo aquele que ousa pensar por conta própria. Uma revolução que conseguiu, para esse fim, herdar o pior do comunismo, em seu horror à inteligência, e o pior do capitalismo, em sua absoluta estranheza com tudo aquilo que não vire objeto imediato de consumo.
O terrorismo do pensamento único se distingue da linha chinesa ou norte-coreana precisamente por não ser sangrento, porém marcado, em sua anemia crônica, por uma total ausência de sangue, graças ao número incalculável de vampiros do mais variado quilate. E, por conta disso, o nosso incansável choro nunca será de terror, como na Coréia do Norte – cada um como que disputando ou concorrendo com as lágrimas do outro na multidão – mas de imbecilidade mesmo: por chorar não só a morte do que não houve, como também daquilo que poderia morrer a cada momento, por já nascer velho.