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Teologia

Pe. Garrigou-Lagrange X Pe. Marin-Sola

Texto do confrade Rui:

Não há unanimidade entre os próprios tomistas. Recentemente, descobri que houve uma grande polêmica envolvendo dois grandes nomes da escola dominicana (tomista), Pe. Garrigou-Lagrange e Pe. Marin-Sola, a respeito da permissão de Deus em relação ao mal e do concurso divino envolvendo o pecado. O referido Pe. Marin-Sola, pelo que consegui pesquisar sobre sua posição, é autor de um estudo publicado na Revista Tomista em 1925, no qual defende uma noção de graça suficiente, distinta da noção do Pe. Garrigou-Lagrange, que daria não só a potência para agir (posse agere), mas também o próprio agere, enquanto incoação do ato, para os atos considerados fáceis ou imperfeitos. Consequentemente, os atos difíceis ou perfeitos continuariam necessitando da graça infalivelmente eficaz, ao passo que a graça suficiente seria uma graça falivelmente eficaz, porque permitiria ao pecador, somente com ela, realizar esses atos fáceis, ou então por-lhe impedimento, que proviria unicamente da vontade humana. Dessa forma, a doutrina nova exposta pelo Pe. Marin-Sola entende que Deus é autor de todo o bem, enquanto o homem é autor do impedimento que se possa fazer a esse bem, seja no nível da graça suficiente, que seria a premoção física ordinária ao bem sobrenatural, seja no nível da premoção física ordinária ao bem natural.

solaPara quem não conhece, Pe. Marin-Sola é autor de uma célebre obra chamada “A evolução homogênea do dogma católico”, que está no site “Obras raras do catolicismo”.

Aqui, uma obra de defesa escrita por um tal Michael Torre, da posição do Pe. Marin-Sola, que ele considera maior tomista que o Pe. Garrigou-Lagrange, e estando de acordo com os princípios de Sto. Tomás e do magistério da Igreja.

Pe. Basílio Meramo, que foi expulso da FSSPX, também segue em vários pontos a doutrina do Pe. Marin-Sola, como pode ser visto em textos que ele divulga no seu site.

garrigouO Pe. Garrigou-Lagrange responde à nova tese em sua obra “La prédestination des saints et la grâce”. Abaixo, eu faço uma crítica de um defeito grave nessa posição do Pe. Marin-Sola, que, aliás, foi seguido na longa refutação que o Pe. William Most tentou fazer à doutrina tomista da predestinação, que está no site “CatholicCulture.org” (há um texto também desse padre no site da EWTN), com a diferença de que o Pe. Most não aceitava a distinção entre graça eficaz e graça suficiente.

Pe. Marin-Sola procura resolver o problema da premoção física (sobrenatural e natural) da seguinte maneira: o homem não pode ser causa primeira de nenhum bem, mas pode ser causa primeira do mal, isto é, do impedimento à premoção para o bem. Para mim, é evidente que essa posição contraria os mais basilares princípios metafísicos, dado que o mal não subsiste senão no bem, e, sendo ele a carência do bem, é determinado pela quantidade de bem existente. Logo, ao criar determinado bem limitado, Deus é a Causa primeira da limitação inerente a esse bem, isto é, o mal, embora indiretamente. De todo mal físico, Deus é causa só indireta. Só não se pode atribuir a Deus ser causa indireta do mal moral, por não dar a todos a ajuda para que não pequem, segundo Sto. Tomás, pois Deus não obra em favor de permitir o mal senão atendendo à ordem de Sua sabedoria e justiça. Para Sto. Tomás, o timoneiro só está responsável pelo que acontece ao navio, quando, podendo e devendo dirigi-lo, retira a sua direção (S. Th., I-II, q.79, a.1).

Assim, eu penso que, pelo menos, nesse ponto, a posição de Pe. Marin-Sola (que aqui também é seguida pelo Pe. William Most) não é mais consistente metafisicamente do que a posição do Pe. Garrigou-Lagrange, ou ainda, não é consistente metafisicamente.

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