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Começou antes do PT

socialismo fabianoQuem acordou para a vida após a virada do século, ou durante a primeira década desta centena, provavelmente não tem ideia de que o processo de revolução cultural que marcou o governo dos quadrilheiros do PT foi preparado pelo do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC). Obviamente, em termos administrativos, institucionais e macroeconômicos não há muito de negativo a se falar da época dele, mas em termos de mudança de mentalidade, em especial no que se refere à cristalização de um esquerdismo fabiano e emasculado na classe média, o período em que o PSDB comandou foi decisivo para a mudança de mentalidade. Isso agora ficou patente em vários trechos do segundo volume dos Diários da Presidência de FHC, que retratam a rotina do comando do Brasil entre 1997 e 1998, como o seguinte (destaques meus):

15 de novembro de 1997, sábado

(…) Ontem o general Cardoso me disse uma coisa extraordinária e positiva: “Presidente, há invasões diárias no Brasil por causa da terra e a sociedade aceita; será que isso não é um modo de o Brasil evoluir, de acompanharmos a sociedade, verificar que a lei não prevalece porque não tem atrás dela a vontade do povo?”. Curiosamente, é o que está acontecendo mesmo. O governo não está reprimindo, o Incra está se adaptando à situação, com a condição de que eles estejam ocupando terras realmente improdutivas. É um avanço, um avanço pela força, não pela lei. Mas obriga a que a sociedade ande mais depressa na distribuição de terras. Todo mundo sabe que sou cético quanto aos resultados disso a longo prazo, mas, em termos de pressão social, da pobreza, da necessidade de desconcentrar a posse da terra, acho que o general tem uma visão que no passado seria difícil de imaginar que um militar tivesse, uma visão democrática. Democracia, aliás, mais avançada que a formal.

Eu concordei com ele, acho que temos que ir com jeito, evitando choques, evitando que a direita agrária imagine que isso é o fim do mundo, mas ao mesmo tempo contemporizando e não criando situações que sejam contra os que não têm terra e que precisam dela.

Ou seja, devido à propaganda da mídia, como a novela Rei do Gado (da Globo), as pessoas a quem nosso sistema democrático, que é constitucional, e, portanto, baseado no primado da lei, concedia o governo da nação, chegaram à conclusão de que a maior parte da população apoiava o comportamento do MST (muitas pesquisas de opinião diziam o contrário – mas elas deviam ser da direita agrária…) e, desse modo, deviam “avançar” no sentido de buscar a primazia da força sobre a segurança legal. Um desastre! Foi por causa disso que os tais “movimentos sociais” passaram a se achar acima de qualquer limite, a achar que tudo o que fazem deve ser tolerado e não deve gerar consequências; foi por causa disso que o Incra passou a servir a esses mesmos movimentos, que, muitas vezes, não lutam pela reforma agrária dentro do nosso marco institucional, mas usam essa bandeira como catapulta para ideias tresloucadas de fundo socialista-maoista, e, portanto, são subversivos; foi por causa disso que o governo, por via indireta, passou a encher os líderes dessa desordem de dinheiro… Enfim, é por causa disso que a “terceira via” não é uma alternativa legítima para o conservador, perfazendo, na melhor da hipóteses, a opção menos ruim num contexto extremo.

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