“Subiu ao Céu; está sentado à mão direita de Deus Pai todo poderoso.”
O corpo de Cristo foi glorificado desde o instante de sua Ressurreição, mas durante os quarenta dias em que vai comer e beber familiarmente com seus discípulos (Atos X, 40-41) e instruí-los sobre a Igreja (Atos I, 3-4), sua glória permanece ainda velada sob traços de uma humanidade comum. O Divino Mestre, então, mostra-se pela última vez aos discípulos: declara que eles haveriam de ser testemunhas do Evangelho até os confins da terra, ergue as mãos, abençoa a todos e sobe ao Céu (Lucas XXIV, 50-51; Atos I, 7-9). A entrada da humanidade de Jesus na glória divina (simbolizada pela nuvem – Êxodo XIII, 21-22; Atos I, 9 – e pelo Céu) indica uma diferença de manifestação entre o ressuscitado e o exaltado à direita do Pai. O acontecimento ao mesmo tempo histórico e transcendente da Ascensão (ato de elevar-se pelas próprias forças) marca a transição de uma para a outra (Salmo XLVI, 2-6).
“E quando eu for elevado da terra, atrairei todos os homens a mim” (João XII, 32). A elevação da cruz significa e anuncia a elevação da Ascensão ao Céu. É o começo dela. Jesus Cristo, o único Sacerdote da nova e eterna Aliança, não “entrou em um santuário feito por mão de homem… e sim no próprio céu, a fim de comparecer agora diante da face de Deus em nosso favor” (Hebreus IX, 24). Entregue a suas forças naturais, a humanidade não tem acesso à “Casa do Pai”, à vida e à felicidade de Deus. Só Cristo pôde abrir esta porta ao homem, “de sorte que nós, seus membros, tenhamos a esperança de encontrá-lo lá onde Ele, nossa cabeça e nosso princípio, nos precedeu” (Prefácio da Ascensão I – rito paulino). Tanto é assim, que acreditamos que Nosso Senhor ascendeu em meio às falanges de almas bem-aventuradas saídas do Limbo. No Céu, o Salvador exerce em caráter permanente seu sacerdócio, “por isso é capaz de salvar totalmente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, visto que ele vive eternamente para interceder por eles” (Hebreus VII, 25). Como “sumo sacerdote dos bens vindouros” (Hebreus IX, 11), Ele é o centro e o ator principal da liturgia que honra o Pai nos Céus.
Na segunda parte do artigo encontramos as palavras: “Está sentado à mão direita de Deus Pai todo poderoso”. Esta expressão encerra uma figura de linguagem muito usada nas Escrituras (Marcos XVI, 19; Efésios I, 20-21). Para maior facilidade de compreensão, atribuímos a Deus afetos e membros humanos, apesar de não podermos imaginar nada de corpóreo nEle, posto que é puro espírito.
Mas, como nas relações sociais julgamos dar maior honra a quem colocamos à nossa direita, assim aplicamos o mesmo princípio às coisas do Céu. Confessamos que Cristo está à direita do Pai, para exprimir a glória que, como homem, alcançou acima de todas as criaturas. São João Damasceno (De fide orthodoxa) explicava tal verdade do seguinte modo:
Por direita do Pai entendemos a glória e a honra da divindade, onde aquele que existia como Filho de Deus antes de todos os séculos como Deus e consubstancial ao Pai se sentou corporalmente depois de encarnar-se e de sua carne ser glorificada.
Também nessa perspectiva, o “estar sentado” não exprime uma postura de corpo, mas põe em evidência a posse segura e inabalável do régio poder e da glória infinita que Cristo recebeu de seu Pai. Jesus está ali como um rei no trono, um juiz no tribunal (Daniel VII, 13-14). “Foi-me concedido todo poder no Céu e na terra” declarou Ele próprio (Mateus XXVIII, 18). O destino que Ele quer dar a este poder, bem o sabemos: é de medianeiro a nosso favor (I Timóteo II, 5), é de advogado nosso junto ao Pai (I João II, 1). Roga a Deus por nós e procura facilitar-nos o ingresso no Paraíso (João XVI, 24).
Elevemos, pois, nossos olhos ao Céu, onde temos junto do Pai um intercessor que franqueou-nos o caminho para chegarmos a celestial bem-aventurança.
2 respostas em “VI artigo do Credo”
No sexto artigo do Santo Credo reza:
“JESUS SUBIU AOS CÉUS, ESTÁ SENTADO À DIREITA DE DEUS PAI TODO-PODEROSO”
Conforme São Marcos 16, 19;
A variação que coloquei é aceita, vide, por exemplo, o Catecismo de Boulanger.