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Eclesiologia

Ramalhete e o “medievalismo bergogliano”

Ontem coloquei nas leituras selecionadas um texto do Prof. Carlos Ramalhete publicado no Medium no qual ele analisa o pontificado de Francisco segundo um marco histórico-sociológico traçando a caminhada administrativa e pastoral da Igreja da Idade Média até Trento e de Trento até os nossos dias. É interessante que várias das conclusões a que ele chega, em especial no que tange às conseqüências da burocratização da vida eclesial com a contra-reforma, é algo que eu mesmo já tinha notado antes, embora que com mais ênfase no período pós-Vaticano I; todavia, o ponto central do argumento final dele é, para mim, um completo non sense.

Em primeiro lugar, não vi nenhuma correlação lógica entre o desenvolvimento do texto e o governo de Bergoglio. Reconhecer a formação de uma rigidez administrativa que se refletiu na vivência da fé é um dado incontestável, mas dizer que Francisco é o primeiro Papa a quebrar com ela me parece puro cronocentrismo. As reformas paulinas foram muito mais impactantes na sua época que qualquer coisa feita pelo Soberano Pontífice atual e, em certo sentido, a segurança jurídica proporcionada pelo legado canônico de São Pio X (Código de Direito Canônico de 1917, regras para a Comunhão, harmonização do calendário, etc.) também proporcionou uma quebra com o tipo de conhecimento esotérico que toda burocracia degenerada adora usar (isto é, regras pouco claras que tolhem a espontaneidade).

Em segundo lugar, Francisco não está desconcentrando poder, mas fazendo precisamente o contrário. Enquanto joga para mídia uma imagem de alternativo aberto ao debate, ele tolhe a autonomia dos mosteiros femininos, das dioceses e, ao estilo de muitos bispos, abre discussões cujas conclusões já estão decididas. E qual foi mesmo o incentivo dado a devoções populares consagradas? Fazer pouco de uma campanha de recitações do terço se enquadra nisso? Certamente que não!

Portanto, Francisco não é medieval, ao contrário, é muito moderno. O centralismo democrático, com pitadas de espetáculo, é o mote de seu governo.

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Uma resposta em “Ramalhete e o “medievalismo bergogliano””

Mas o que o Carlos Ramalhete faz sistematicamente em se tratando de Papa Francisco é isso mesmo, uma postura de “wishful thinking” com grave prejuízo para a realidade. E para tal adota uma fé cega na crença nos pressupostos do neoconservadorismo: primeiro, o papa está sempre certo, depois, vamos procurar os argumentos para fundamentar a crença. Daí resultar na falácia que você ressaltou ao fim do primeiro parágrafo, em que o raciocínio se perde sem concatenamento lógico.

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