Tradução e adaptação de um texto de Shawn Tribe:
Nas últimas décadas, ouviu-se muito na Igreja que o uso do preto como cor litúrgica seria algo contrário à esperança cristã na ressurreição dos mortos. Por isso, vários agitadores fizeram o possível para extirpar essa cor das missas de finados ou de outros ofícios litúrgicos relacionados aos mortos. Como resposta, eu poderia dizer que esse não é o caso de valorizar “um ou outro”, mas de “ambos”. Vou explicar melhor: mesmo os cristãos sendo de fato um povo cheio da esperança gestada na ressurreição, isso não invalida a resposta emocional natural representada pela tristeza do luto, nem o fato de que estamos igualmente conscientes da realidade do pecado, morte e julgamento. Tal consciência e reserva é simplesmente isso, uma consciência e reserva que brota do reconhecimento de uma genuína realidade espiritual, e não pode ser equiparada à falta de esperança ou a uma esperança insuficiente na ressurreição dos mortos. Não dar reconhecimento adequado a essas realidades é um problema.
Se olharmos para o ano eclesiástico, vemos como ele apresenta tanto momentos de festas como de jejum; como ele apresenta momentos de exuberância e alegria e tempos de reserva mais sombria, penitência e luto. Só as liturgias da Semana Santa dão um exemplo particularmente condensado disso. Cada uma dessas partes serve e ensina aspectos particulares dentro de seus tempos determinados e em ocasiões designadas, mas também devem entendidas em relação a todo o conjunto do ciclo litúrgico da Igreja. A perda de qualquer uma delas resultaria numa imagem incompleta.
O uso do preto, que corresponde ao reconhecimento do pesar e do luto, do pecado, da morte e do julgamento, é uma manifestação ou parte desse quadro mais completo.
Em um nível simbólico e teológico, o tom sombrio e reservado das vestes negras pode ser entendido como um lembrete da triste realidade do pecado (pessoal e original) e da realidade da morte que entrou no mundo com a Queda. Ela manifesta uma espécie de reserva sagrada e prudente. Pode enfatizar a realidade do purgatório e a necessidade de orações que devemos oferecer pelos mortos – uma das sete obras espirituais de misericórdia. Da mesma forma, nós, os vivos, somos lembrados das quatro últimas coisas e da necessidade de cuidar do estado de nossas próprias almas, trabalhando por nossa salvação. Em um nível cultural e pastoral, no mundo ocidental, a cor preta tem uma associação particularmente forte como símbolo de tristeza e luto. Assim, o negro pastoralmente reconhece e se une à resposta emocional natural e perfeitamente normal à perda de um ente querido; da tristeza que entrou no mundo através do pecado e da morte.
Como um símbolo, portanto, as vestes pretas não são apenas apropriadas, mas também inteiramente desejáveis.