Pergunta recebida de um leitor:
Qual divisão tradicional dos tipos de arte? Lembrei disso ao ouvir falar recentemente que o cinema é a “sétima arte”. O que isso quer dizer exatamente?
A arte consiste na reta noção de fazer as coisas, isto é, ela tem por função determinar que condições a obra a produzir deve preencher para ser conforme a idéia do artífice. Existem artes práticas, que visam um fim útil (mas sem excluir, como acréscimo, a beleza), e as belas-artes, que são desinteressadas e não visam senão à produção de uma coisa.
Sobre a divisão dessas últimas Jolivet (Curso de Filosofia, pp. 341 e 342) fala o seguinte:
“Considerando o objeto próprio de cada uma das belas-artes, obtém-se a seguinte divisão:
1. Grupo das artes plásticas. – As artes plásticas são as que utilizam as formas sensíveis compactas e sólidas e produzem as obras imóveis. Este grupo compreende:
a) A arquitetura, que atinge à beleza pelo equilíbrio e as proporções agradáveis das massas pesadas que ela utiliza.
b) A escultura, que atinge à beleza pela perfeição com a qual chega a expressar atitudes e sentimentos das formas vivas, e particularmente do homem. Ela pode exprimir o movimento (o Discóbolo, mas fixando-o num de seus momentos.
c) A pintura, que visa a exprimir, pelo jogo de cores, as relações das formas sensíveis entre si. A pintura pode obter, por seus próprios meios, certos efeitos que envolvem a arquitetura ou a escultura. Ela consegue, em particular, fixar de uma maneira mais suave do que a escultura, e até em suas variações mais úteis, as expressões da face.
2. O grupo das artes de movimento. – As artes deste grupo (música, dança, poesia) produzem obras que são essencialmente móveis, situadas no tempo.
a) A música. A arte musical comporta, como elementos constitutivos, o ritmo, elemento fundamental, resultante da desigualdade dos tempos; a melodia, que se origina no acento, e surge diretamente da linguagem, espécie de canto; a harmonia, fundada na simultaneidade das melodias.
A música pode visar a exprimir sentimentos (música expressiva), ou transcrever sensações auditivas (música descritiva ou impressionista). Na verdade, a música não faz, nos dois casos, senão sugerir, e ela implica, por essência, uma transposição.
b) A dança. A arte da dança tem qualquer coisa de mista: a dança, com efeito, participa da escultura, pelas atitudes de movimento que ela põe em jogo, da arquitetura pelos equilíbrios de grupos que realiza, e, enfim, da música, que toma o ritmo próprio, dando-lhe uma espécie de tradução plástica.
c) A poesia. O que se chama arte literária é alguma coisa de complexo, que oscila entre a expressão das idéias abstratas e a poesia, que é uma das belas-artes.
A poesia pode tender, quer como a música, a exprimir sentimentos, quer como a pintura, a descrever formas sensíveis. Ela possui seu encanto próprio, devido ao ritmo mais ou menos suave e harmonioso que dirige o desenrolar do discurso verbal e que é, quando não independente do sentido, ao menos outra coisa diferente do sentido das palavras.”
Assim sendo, teríamos a seis artes tradicionais, e o cinema seria a sétima.
Particularmente não gostei do que ele falou sobre a última, pois ele parece dizer que a literatura não é uma bela arte, que só a poesia o seria. Não concordo com isso. Para mim tanto a literatura quando a poesia perfazem espécies do gênero arte literária.