Quando o Conde esquece sua fixação contra Bolsonaro, ele volta a escrever coisas interessantíssimas, como fez recentemente (na aba “comunidade” de seu canal) ao refletir sobre a colonização ibérica na América (foram três postagens, que coloco em sequência, sendo cada uma equivalente a um parágrafo):
Nada mais irritante, nada mais artificial, nada mais forçado do que o chororô esquerdista pela cultura indígena anterior à colonização portuguesa e espanhola na América. A Igreja Católica fez um favor tremendo aos índios ao abolirem práticas abomináveis como os sacrifícios humanos e o canibalismo. Inclusive, quando os valorosos soldados de Hernan Cortéz, com seus morriões, espadas e mosquetões chegaram ao México, os povos índios mais oprimidos pelos rituais sanguinários dos aztecas se alinharam ao invasor espanhol. Os massacres da conquista do México por Cortez partiram de tribos rivais, aliadas dos espanhóis, que queriam se vingar das atrocidades aztecas. Depois, os dominicanos, franciscanos e jesuítas fizeram um trabalho revolucionário de converter um povo de assassinos e canibais em fiéis seguidores de Cristo. Os monges também combateram duramente a crueldade de alguns soldados e aventureiros espanhóis. A mudança espiritual chega a ser dramática. Os povos das missões, em poucos séculos, sabiam esculpir a carpintaria, criar arte, compor músicas e ler, além de rezar em latim. Quando não, na língua nativa. Os jesuítas ensinaram a música da Europa aos índios. E muito da música sacra colonial latino-americana era cantada em guarani, quéchua e nauatl. Nas terras portuguesas, gente do quilate de Anchieta convertia os índios com o teatro. Foram os jesuítas que combateram a escravidão indígena e a crueldade dos Bandeirantes. Inclusive, tanto os reis de Portugal e Espanha criaram leis de proteção aos índios, como ainda o direito das missões de se armarem contra os invasores. A missão era jurisdição da Igreja. É espantoso que nas guerras de independência na América Latina, os indígenas foram o braço armado mais leal da igreja e da monarquia espanhola. Lutaram contra a elite “criolla”, influenciada pelo liberalismo e pela maçonaria. A luta pela “independência” foi, na verdade, uma guerra civil. A vitória e a traição da elite criolla alimentou ainda mais o mito forjado da “leyenda negra” espanhola. Era preciso demonizar o passado imperial hispânico, justificar o processo de independência e legitimar o poder das oligarquias liberais e anglófilas vitoriosas. O indigenismo é filho da revolução liberal, como instrumento de propaganda ideológica, ainda que historicamente falsa. O paradoxo do “indigenismo” é que o índio era exaltado na retórica, quando na prática era massacrado em seus países. A esquerda, no século XX, radicalizou esse processo, nas crenças racistas de comunistas militantes como o peruano Carlos Mariatégui e outros. Culturas que praticam o canibalismo e o sacrifício humano não devem ser respeitadas. Devem ser extintas. A civilização hispânica (ou ibérica, como queiramos) salvou a América do atraso civilizatório e da crueldade. Os índios latino-americanos conscientes de sua tradição católica,, como os nativos do Pará e do Amazonas, agradecem pelos braços soldados de Cristo, que trouxeram o maravilhoso patrimônio da civilização hispânica.
Você é um soldado espanhol do século XVI. Um soldado de Cortéz. Chega nas Américas. E aí ao entrar em Tenotitlán, vc vê templo onde há pedaços de cadáveres de milhares de pessoas sacrificadas aos deuses. Com certeza vc teria o mesmíssimo impacto psicológico de desprezo que o soldado provavelmente sentiu pelos indígenas. Julgaria esses povos bárbaros, infames. Inclusive, cogitaria passá-los a fio de espada pela crueldade. Porém, a postura hispânica foi diferente. Ainda que houvesse guerras ou massacres contra esses povos, foram esporádicos. A regra foi evangelizar, converter, civilizar. A mentalidade católica hispânica cria profundamente no poder do evangelho. Essa paixão foi tão arraigada, que em poucos anos, os antigos hábitos pagãos de sacrifícios humanos foram literalmente abolidos. Os próprios índios adquiriram a mesma repulsa hispânica a essas práticas. A Espanha fez da América sua extensão cultural. Construiu mosteiros, escolas, catedrais e fundou as universidades no continente americano. O mesmo se pode dizer de algumas tribos canibais do Brasil. A Igreja, sob o império português, queria convertê-los. Evangelizá-los. A diferença é assombrosa. O ribeirinho amazônico católico, devoto da Virgem Maria, respeitoso com a fé e bondoso, hospitaleiro, gentil, é a antítese do passado bárbaro. É muitas vezes, ainda mais católico do que um português da atualidade. As demais tribos saíram de seu primitivismo e foram assimilada pelos portugueses. Mesclaram-se com os europeus. Os miscigenados ou os simplesmente convertidos se achavam parte de Portugal, súditos do rei, membro do Império, como do Corpo Místico da Igreja. A expansão bandeirante, longe de ser só portuguesa, é também Índia, só que evangelizada. Evidentemente que não se pode endossar alguns atos de crueldade dos Bandeirantes, condenados pela Igreja. Ou o assalto violento às missões no território do império espanhol. Porém, essa conversão da barbárie para a civilização é um dos eventos mais espetaculares da história. Já dizia um amigo espanhol, que na Espanha moderna e secular, o espírito de Don Quijote que restou se preservou entre os descendentes dos indígenas, entre os latino-americanos. Todo aquele arcabouço espiritual que a Espanha contemporânea jogou na lata do lixo para se tornar parte da Europa liberal se encontra no mundo latino-americano. São muitas vezes encontrados nas ruas espanholas fazendo trabalhos pesados. São mexicanos, equatorianos, peruanos, guatemaltecos, bolivianos, etc. Guardam aquela devoção religiosa já esquecida por muitos espanhóis. Comparemos a influência de Espanha e Portugal nas Américas com a colonização anglo-saxônica? Foi uma colonização impiedosa. Tribos inteiras foram massacradas. Os colonizadores, por regra, se recusavam a se mesclar com os nativos da terra. Envolvidos na doutrina calvinista, exclusivista e profundamente racista, os ingleses e demais povos germânicos rejeitavam a visão universalista do catolicismo. Achavam-se os “povos eleitos” contra os indígenas norte-americanos, agora transformados em canaanitas da modernidade, e a América, sua “Terra prometida”. Os indígenas norte-americanos foram subjugados num sistema racista brutal. Mesmo a expansão para o oeste, no século XIX, foi um verdadeiro genocídio. Ainda que espanhóis e portugueses também cometessem algumas atrocidades, porém, a grande maioria das populações indígenas foi assimilada. Vemos as feições dos velhos habitantes nos povos latino-americanos de hoje. Já nos Estados Unidos, o país virou uma confraria de europeus do norte. E os indígenas foram trancafiados em reservas indígenas. E o espantoso é que, apesar do histórico terrível dos norte-americanos, foi a Espanha católica (junto com Portugal) que herdou a má fama de violentos, na famigerada leyenda negra. Mas a história revela justamente o contrário! Espanha e Portugal criaram dois impérios mundiais. Evangelizaram e civilizaram boa parte do mundo. Comparados ao império inglês, francês, holandês ou russo, todos esses povos passam vergonha!
Vamos ser sinceros: pode-se falar horrores de Hernan Cortéz. Porém, uma coisa é certa: “este hombre no tenía dos pelotas en Los cojones, sino cinco!” Chegar no México, queimar os navios para não recuar e pelear com os indígenas é algo de uma temeridade que beira à loucura. Mas o castelhano é assim mesmo! Homem cheio de orgulho e honra. Depois de passar quase um milênio combatendo os mouros e o Islam, lá vai ter medo dos aztecas? Tal como César na Gália, “veni, vidi, vici”! (vim, vi e venci).
Esses comentários parecem ir ao encontro de um livro (Impérios Coloniais, de Marcelo Andrade) lançado semana passada e que certamente entrou na minha lista de leituras: