
O primeiro brasileiro a receber o hábito de Cavaleiro da Ordem de Santiago foi o capitão Manuel Gonçalves Dória em 1647. Nascido em Salvador, recebeu a título de Cavaleiro pelo Rei Filipe IV da Espanha (Filipe III de Portugal) por sua participação na expulsão dos holandeses da Bahia em 1625.
No cerco holandês a capital da Bahia entre 1624 a 1625, o capitão Gonçalves Dias foi mencionado pelos principais cronistas da época como o líder das guerrilhas e emboscadas aos invasores: “Os holandeses foram acometidos pelo capitão Manoel Gonçalves Dória, com sessenta e seis soldados, fazendo-lhes considerável estrago, o que deu motivo a ordenar o governador holandês que ninguém geralmente saísse do recinto da cidade”, menciona Frei Vicente de Salvador.
O historiador Alexandre José Mello Moraes menciona que o Capitão Baiano matou em combate 8 soldados inimigos e capturou 2.
Manuel Gonçalves Dória era filho do português Domingo Pires e da baiana Maria Fragosa. Todo o passado familiar do herói baiano foi investigado pelo Conselho Ultramarino em Lisboa, pois Cavaleiros da Ordem de Santiago não poderiam ter sangue judeu ou mouro, segundo as chamadas leis de “pureza de sangue” (impostas pelos Habsburgo de Castela, e estranhas ao ethos lusitano), e assim ele foi impedido de ganhar o título por quatro motivos: “era mulato, não era de família nobre, sua avó materna havia sido acusada de praticar bruxaria e judaísmo na ilha da Madeira”.
Manuel Gonçalves Dória viajou pessoalmente a Lisboa em 1628 onde ganhou pensão anual de 20 mil reis e o posto de comandante do Terço de Homens Pardos, mas não conseguiu a comenda de Cavaleiro.
De volta ao Brasil, lutou mais 8 anos contra os holandeses em Pernambuco e na Bahia no Terço de Dom Vasco Mascarenhas e ao lado de seu irmão Francisco Fernandes. Em carta datada de 1638, Pedro Cadena de Vilhasanti elogiou sua bravura, pois estava na vanguarda de um combate de duas horas contra as tropas do Conde de Nassau.
O capitão baiano também lutou na Armada de Salvador Corrêa de Sá. em 1644, na reconquista de Angola dos holandeses e foi promovido a sargento mor e conselheiro do Governador Geral, e. em 1647, tomou parte da expedição contra os holandeses na Ilha de Itamaracá.
Finalmente, nesse mesmo ano, o Rei Dom João IV de Portugal dispensou os impedimentos de Manuel Gonçalves Dória, que foi nomeado oficialmente Cavaleiro da Ordem de Santiago, fazendo parte de um grupo seleto de 5 afro-brasileiros que tiveram honraria similar da Coroa Portuguesa (Henrique Dias, Antônio Gonçalves Caldeira, Amaro Cardigo e Domingues Carneiro), e se tornando um exemplo, ao gosto medieval, da “nobreza de guerra”.
O herói baiano Manuel Gonçalves Dória faleceu em 1679 em Faial, Ilha da Madeira, deixando pensão de 100 mil reis a sua esposa e filho.
Fonte: Nobrezas do Novo Mundo: Brasil e ultramar hispânico, séculos XVII e XVIII (via página A Terra de Santa Cruz, no Facebook – texto adaptado e corrigido)