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Por que o tradicionalismo não prevalece?

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Por que o “tradicionalismo” católico, estando certo no “atacado” sobre os problemas e frutos do CVII, não consegue prevalecer?

1) Uma razão importantíssima, obviamente, é que a direção eclesiástica jamais foi justa com suas legítimas reivindicações e críticas, tendo oscilado entre: a ambiguidade nua e crua (Paulo VI), o conservadorismo dialoguista (JPII), o conservadorismo simpático a certos pleitos tradicionalistas (BXVI), e o progressismo como índole prevalecente (Francisco).

2) Outra é que a maioria dos fiéis não tem condições intelectuais e/ou espirituais para dar-se conta da gravidade (imensa) do problema – ele sequer aparecerá para um católico principiante ou neoconverso (especialmente se veio do protestantismo ou de outras religiões) – ou, dando-se conta, para atinar à via resolutiva, ou então para suportar uma apologética virulenta contra o estado de coisas eclesiástico que parece atacar a Igreja em si.

3) Outra razão é que sua crítica teológica geralmente não faz justiça a todos os aspectos da questão: não conhece bem a nouvelle théologie, sua distinção para o modernismo e suas distinções internas, ignora o sentido do método fenomenológico (e o próprio sentido da gnosiologia aristotélica às vezes) e a diferença das suas escolas, e absolutiza certos aspectos contingentes do magistério anterior.

4) Outro motivo relevante é que, na maioria das vezes, não é capaz de reconhecer os méritos/graças presentes nos papas “conciliares”, mas insistem unilateralmente no “liberalismo” (sic) ou coisa pior, ou nos escândalos (Assis, beijo no Alcorão, etc.), jamais procurando captar com alguma sabedoria ou simples bondade o sentido providencial da realidade eclesial; vários alegarão que isto é “impossível”, mas é perfeitamente possível apreender os méritos objetivos e não é justo sempre imputar intenção má (“Summorum Pontificum é pega-trouxa”), ou total ausência de autoridade, ou então uma intenção idêntica, como se a direção ou “hermenêutica” bergogliana fosse a mesma que a wojtyliana-ratzingeriana, e não 2 vias possíveis no interior da ambiguidade conciliar (como se Fratelli Tutti fosse compatível com Dominus Iesus, ou Traditionis Custodes com Summorum Pontificum!).

5) Também porque, na esteira do anterior, tem dificuldades para reconhecer o valor dos padres e bispos conservadores, que fazem esforços louváveis para fazer brilhar a Tradição no interior do horizonte da pastoralidade conciliar, celebrando com decoro, ensinando e evangelizando com veracidade e coragem, com profundidade espiritual.

6) Algumas vezes o problema é a associação a certa política ideológico-partidária de “direita”, que não constitui um dever católico, e é confundida com a luta pela Realeza Social de Cristo.

7) Enfim, porque aos conservadores perplexos e abertos, não parecem realmente “dóceis”: não fazem toda a defesa abstrata possível dos textos conciliares, para só então demonstrar as aporias, as razões teológicas implícitas que permitem descambar para o erro e a heresia; assim, também não têm em conta o mecanismo psicológico da descoberta da verdade, agem como se a questão estivesse provada autoritativamente de uma vez por todas (uma coisa é saber que se está teologicamente certo, outra é entender que se tem de contar com a inevidência eclesiástica da verdade e o fato da disputa).

Joathas Bello

4 replies on “Por que o tradicionalismo não prevalece?”

Um texto muito importante, mas sobretudo muito informativo. Thiago, poderia me explicar como é ou o que é a Nova Teologia ?

A chamada Nova Teologia era uma das três principais correntes teológicas no período imediatamente anterior ao Vaticano II (as outras eram a neotomista e a neomodernista), que preconizava uma volta às fontes patrísticas. Em si mesmo, nisso não há nada errado, pelo contrário, é algo mais do que necessário; o problema é que muitos adeptos dessa corrente se encheram de soberba e passaram a desconsiderar, ou considerar como “inferior”, os desenvolvimentos teológicos (e seus reflexos na vida eclesial, como na liturgia) dos séculos posteriores à Patrística.

Thiago, boa noite, poderia explicar o por quê de muitos criticaram a Nova Teologia ? (Sobretudo depois que vi um vídeo do Padre Paulo Ricardo sobre isso e nos comentários do vídeo muitas pessoas criticaram a posição dele)

Basicamente por dois motivos (o que for além disso é maluquice):

1) Como disse antes, muitos adeptos dessa corrente teológica caíram no erro do arqueologismo, isto é, de considerar que o antigo, pelo mero fato de ser antigo, é superior ao que é mais novo. Assim, a postura em torno do Santíssimo Sacramento na Igreja primitiva seria superior ao que se desenvolveu depois.

2) De um ponto de vista de política eclesiológica, muitas figuras ligadas à Nova Teologia se uniram a neomodernistas para controlar a Igreja (claro, depois se arrependeram, mas já era tarde).

Sugiro a leitura desse texto.

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