Pergunta feita pelo leitor Edgar:
O que é temperança?
Respondo a partir da lição de Frederico Tillman (A Moral Católica, Vozes, 1953).
A temperança é uma virtude moral que modera a atração para o prazer sensível, em particular para os prazeres do gosto e do tato, e conserva-os nos limites da honestidade.
Quando modera o paladar, a temperança chama-se sobriedade; compreende também o uso de bens voluptuários (fumo, álcool, etc.). Moderando o prazer anexo à propagação da espécie, chama-se virtude da castidade.
Os vícios contrários são a gula e a luxúria. Peca-se por gula quando o excesso de comida e bebida prejudica a saúde, ou perturba o domínio da razão sobre o instinto (inebriação completa).
Vamos desenvolver um pouco essas informações básicas:
a) O objeto da temperança é moderar todo prazer sensível, em particular os que se ligam às funções principais da vida orgânica: o comer e beber que conservam a vida do indivíduo, e os atos sexuais que visam a conservação do gênero humano. A temperança faz-nos usar desses prazeres para um fim honesto e sobrenatural. Por isso é que subordina o seu uso às prescrições da razão e da fé.
Como o prazer é atraente, e pode arrastar para além dos justos limites, a temperança nos leva à mortificação, até em coisas lícitas, a fim de nos assegurar o domínio da alma sobre a paixão.
b) A desordem da gula consiste em procurar o alimento por si mesmo, a exemplo daqueles que do ventre fazem um deus (Filipenses III, 19), ou em procurá-lo em excesso, sem respeitar as regras da sobriedade (por exemplo: comer fora das horas, com muito requinte, com demasia, com sofreguidão, etc.).
c) Sua malícia está em escravizar a alma ao corpo, embrutecer as faculdades intelectuais, abalar a saúde, desperdiçar os dons de Deus (defraudar os pobres sem pão). O excesso de comida não passa, geralmente, de culpa venial. O excesso de bebida é mortal se levar à plena inconsciência (inebriação completa). Como vício capital, a gula provoca as seguintes faltas e pecados: rixas e blasfêmias, impureza e volubilidade, dissolução e loquacidade.
É sempre bom lembrar que a medida da alimentação não pode ser a mesma para todos. Muitas pessoas precisam de alimentação mais abundante (por exemplo: trabalhadores manuais, pessoas anêmicas e propensas à tuberculose, etc.). Outras há que devem restringi-la, para combaterem o artitrismo, a esclerose, etc. Sigam-se, nesse ponto, os conselhos do médico. É natural que as pessoas mais novas, durante o crescimento, também precisem de uma alimentação mais forte e abundante.
É nosso dever moral acostumar-nos à temperança, por meio de mortificações voluntárias. Convém, portanto, submeter-nos de vez em quando a pequenas privações que fortifiquem a vontade ,sem nenhum dado para a saúde. Quem as omite habitualmente, vicia o estômago a superalimentar-se. A superalimentação, porém, abala a saúde e exacerba a sensualidade. A guerra contra a luxúria não pode vingar enquanto não for vencida a glutonaria. Assim, os pais devem habituar os filhos a um passadio frugal.
O mesmos princípios devem ser aplicados ao uso de entorpecentes medicamentosos (morfina, éter, etc.; no passado a cocaína e a maconha também eram usados com fins médicos, e se um dia voltarem a ser, deverão obedecer aos limites citados). Quando necessário, deve estar sob rigorosa vigilância (receita e assistência médica).