Estou lendo um conto de Machado de Assis chamado A Parasita Azul no qual encontrei o seguinte trecho:
No sábado seguinte a cidade revestira desusado aspecto. De toda parte correra uma chusma de povo que ia assistir à festa anual do Espírito Santo.
Vão rareando os lugares em que todo se não apagou o gosto dessas festas clássicas, resto de outras eras, que os escritores do século futuro hão de estudar com curiosidade, para pintar aos seus contemporâneos um Brasil que eles já não hão de conhecer. No tempo em que essa história se passa uma das mais genuínas festas do Espírito Santo era a da cidade de Santa Luzia.
O tenente-coronel Veiga, que era então o imperador do divino, estava em uma casa que possuía na cidade. Na noite de sábado foi ali ter o bando dos pastores, composto de homens e mulheres, com o seu pitoresco vestuário, e acompanhado pelo clássico “velho”, que era um sujeito de calção e meia, sapato raso, casaca esguia, colete comprido e grande bengala na mão.
Camilo estava em casa do coronel, quando ali apareceu o bando dos pastores, com alguns músicos à frente, e muita gente atrás. Formaram logo, ali mesmo na rua, um círculo; um pastor e uma pastora iniciaram a dança clássica. Dançaram, cantaram e tocaram todos, à porta e na sala do coronel, que estava literalmente a lamber-se de gosto. É ponto duvidoso, e provavelmente nunca será liquidado, se o tenente-coronel Veiga preferia naquela ocasião ser ministro de Estado a ser imperador do Espírito Santo.
Hoje como anda essa festa do Divino? Se na época de Machado ele dizia que rareava o gosto por essas festas clássicas, hoje ainda resta algo dele? Essa devoção ao Divino Pai Eterno, feita pelo Pe. Reginaldo Manzoti, tem alguma relação com a devoção ao Espírito Santo presente de maneira forte em Goiás?