Concordar e animar nada custa.
Contradizer e aconselhar, isto sim.
Amantes nunca dissentem um do outro.
Mas esposos, que não se saibam contrariar e advertir, é que não se sabem amar.
É o que vai do amor lícito ao ilícito, do amor puro ao impuro, do mundano amor ao amor santo.
Um, todo carne, todo culpa, nasce do apetite, nele se ceva, e com ele acaba.
Por isso é só blandícias, lisonja, só e só mentira todo ele.
O outro deriva do coração, e no espírito se acendra; pelo que vive de sinceridade, zelo e devoção, e todo ele é fé e confiança, todo estima e desvelo, todo escrúpulo e verdade.
Esta condição do amor casto, do amor fiel, do amor consagrado: o amor dos pais, o amor dos bem-casados, o amor da pátria, o amor de Deus.
– Rui Barbosa (Permanência março-abril de 1975)