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Catequese

Revelação: Fontes (2 de 2)

O segundo texto da série sobre pontos do catecismo escritos pelo confrade Karlos:

tripé da féA Revelação, cremos encontrar-se em duas grandes fontes: escrita (Sagrada Escritura) e não escrita (Sagrada Tradição). Ambas as fontes, a Tradição e a Escritura, podem ser chamadas de Palavra de Deus.

A Sagrada Tradição

Como dito, a Sagrada Tradição é a parte da revelação transmitida pelos séculos de maneira não escrita. Ipso facto, a Tradição é anterior à Escritura.

Não desprezes o que contarem os velhos sábios, mas entretém-te com suas palavras, pois é com eles que aprenderás a sabedoria, os ensinamentos da inteligência, e a arte de servir irrepreensivelmente os poderosos. Não desprezes os ensinamentos dos anciãos, pois eles os aprenderam com seus pais (Eclo 8,9-11).

A Sagrada Tradição existe e é Palavra de Deus:

Por isso é que também nós não cessamos de dar graças a Deus, porque recebestes a palavra de Deus, que de nós ouvistes, e a acolhestes, não como palavra de homens, mas como aquilo que realmente é, como palavra de Deus (I Ts 2,13).

A Tradição Apostólica está nos ensinos dos Concílios eclesiásticos, na Liturgia, na arte sacra (principalmente nas antigas catacumbas) e, por fim, nos Padres da Igreja.

Os Padres da Igreja são os santos doutores dos primeiros séculos do catolicismo (I ao VII). Sua importância está na interpretação e desenvolvimento que deram da doutrina contida na Tradição através de seus escritos. Mas nem todos os escritos patrísticos são a Tradição da Igreja. Neles há também regras locais e opiniões pessoais que não necessariamente refletem-na.

Sobre a Sagrada Tradição:

Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever (Jo 21,25).

Se alguém tem fome, coma em casa. Assim vossas reuniões não vos atrairão a condenação. As demais coisas eu determinarei quando for ter convosco (I Cor 11,34).

Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa (II Ts 2,15).

Intimamo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que eviteis a convivência de todo irmão que leve vida ociosa e contrária à tradição que de nós tendes recebido (II Ts 3,6).

Ó Timóteo, guarda o bem que te foi confiado! (I Tm 6,20).

O que de mim ouviste em presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis que, por sua vez, sejam capazes de instruir a outros (II Tm 2,2).

Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos (Bispos) em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei (Tt 1,5).

Apesar de ter mais coisas que vos escrever, não o quis fazer com papel e tinta, mas espero estar entre vós e conversar de viva voz, para que a vossa alegria seja perfeita (II Jo 12).

Tinha muitas coisas para te escrever, mas não quero fazê-lo com tinta e pena. Espero ir ver-te em breve e então falaremos de viva voz (III Jo 13s).

A Sagrada Escritura

Entre as pessoas que receberam a Palavra de Deus de maneira não escrita, a Tradição, algumas foram inspiradas por Ele mesmo para que escrevessem parte da Revelação. A Escritura é inspirada por Deus, mas foi escrita no tempo por homens inspirados, os hagiógrafos. Santo Tomás define a inspiração divina como “a ação de Deus, movendo e dirigindo o autor na produção do livro, preservando-o de erros [no que tange à salvação], de forma que é Deus o autor e o homem mero instrumento usado para escrever”.

Também o II Concílio do Vaticano define o conceito de inspiração, nesses termos: “Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-Se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria” (Ibid., Constituição Dogmática Dei Verbum, n. 11).

O Magistério Eclesiástico

Deus não só Revelou-Se e escolheu homens para que escrevessem parte dessa Revelação, como instituiu uma autoridade que guardasse tal Tesouro incorrupto durante os séculos. Essa autoridade é a Igreja Católica. Somente o Magistério Eclesiástico pode dizer quais livros são inspirados e quais costumes, regras e doutrinas contidas nos Santos Padres (e outros loci da Tradição) são, de fato, Palavra de Deus.

A Igreja definiu o cânon das Escrituras Sagradas e somente ela pode interpretá-las:

Antes de tudo, sabei que nenhuma parte da Escritura é de interpretação pessoal. É o que ele faz em todas as suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras (II Pd 1,20; 3,16).

O Magistério eclesiástico é, portanto, o exercício da autoridade da Igreja a respeito de sua tríplice função: guardar, ensinar e explicar a Revelação.

É da Igreja que recebemos a fé e ela é que nos leva ao Depósito, não o contrário:

Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicæ Ecclesiæ commoveret auctoritas — Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja católica (Sto. Agostinho, Contra epistulam Manichæi quam vocant fundamenti 5,6: PL 42,176).

De tudo o que foi dito sobre o homem – sua busca e dívida para com Deus, sua vontade de religar-se com Ele, como também de sua incapacidade de alcança-Lo; por outro lado, do fato de Deus Se dignar mostrar-Se ao homem: Há absoluta necessidade de aderir à Revelação, em outras palavras, à religião revelada.

Ditosos somos nós, Israel, porque a nós foi revelado o que agrada a Deus! (Br 4,4).

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