Na semana passada recebi, como todos os anos, o cartão de Natal dos príncipes D. Luiz e D. Bertrand de Orleans e Bragança (os Correios atrasaram), e, desta vez, ele trouxe um interessantíssimo texto comemorativo do segundo centenário da formação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Como católico, sou monarquista, porque esse é o regime mais de acordo com a vontade de Deus, e também sou contrário ao nacionalismo excludente, fruto da modernidade, que eclipsou o legítimo cultivo do patriotismo a partir do século XVIII; desse modo, só posso lamentar que o Reino Unido não tenha durado até hoje (incluindo outras nações da cristandade lusófona), pois ele foi como que o último suspiro de um projeto de evangelização mundial que respeitava os legítimos direitos e identidades locais e se punha em confronto com a demagogia supostamente democrática. Obviamente não estou dizendo que devíamos lutar pela volta desse projeto, posto que a história andou e não retorna ao mesmo ponto. Vamos ao texto:
No dia 16 de dezembro de 1815, por Carta de Lei, o Príncipe Regente D. João elevou o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves. Estamos comemorando neste mês o segundo centenário desse marcante acontecimento de nossa história.
A emancipação do Brasil, em relação a Portugal, resultou de um longo processo, desencadeado ainda no século XVI, quando a Terra da Santa Cruz começou a ser povoada, evangelizada e civilizada pelos portugueses. Foi um processo gradual e orgânico, semelhante ao da educação normal de uma criança, rumo à idade adulta; nele, pouco a pouco se foi gerando na América Portuguesa o sentimento difuso do que mais tarde se chamou “brasilidade”.
Durante o século XVII, quando das lutas heroicas para expulsar o invasor batavo, o Brasil, ainda na sua infância, se sentia autenticamente português; os que aqui nasciam eram tão portugueses quanto os de Lisboa, Coimbra ou Porto. A adolescência de nossa Pátria foi atingida na passagem do século XVIII para o XIX, quando se tornou mais clara a consciência de que estávamos caminhando rapidamente para atingir a idade adulta. A vinda da Família Real, em 1808, acelerou e, ao mesmo tempo, cristalizou tal processo. O Príncipe e depois Rei D. João VI, grande estadista que era, compreendeu que o Brasil estava a ponto de atingir a sua maioridade, e soube proceder em tudo com extrema sabedoria, de modo a assegurar uma emancipação não traumática, mas na linha da continuidade.
Com a elevação a Reino Unido, do ponto de vista institucional o Brasil se tornou um reino autônomo, cujo Rei era o mesmo de Portugal. Nos planos de D. João, Portugal e Brasil continuariam unidos e irmanados sob um mesmo soberano, como ainda hoje o são Inglaterra e Escócia. Com o retorno de D. João a Portugal, em 1821 – forçado pelas cortes revolucionárias de Lisboa – o Sete de Setembro tornou-se inevitável. Seguindo o sábio conselho de D. João, foi seu filho D. Pedro que tomou a coroa “antes que algum aventureiro o fizesse”. E garantiu uma independência dentro da continuidade monárquica, com invejável unidade territorial, política, social e religiosa.
Essa maravilhosa realidade que é o Brasil cristão, unido e pacífico, encontra-se no momento em gravíssima crise, ameaçada por múltiplos fatores de desagregação e aviltamento ético e moral. Não cabe nos estendermos aqui sobre eles. Cabe, isto sim, considerá-los em espírito de esperançosa oração, elevando nosso olhar à divina sublimidade do Presépio.
Adoremos ao Menino Jesus e manifestemos sentimentos de veneração para com a Santíssima Virgem e São José, rogando instantemente, para todos os brasileiros, a profusão das bênçãos do Natal, acompanhadas de confiança e fortaleza para o ano que começa, na certeza de que se cumprirão no Brasil os grandiosos desígnios da Divina Providência.