Debate entre o filósofo Olavo de Carvalho e o doutor em teologia e frei dominicano Carlos Josaphat sobre o tema “A Moral”, no programa Diálogos Impertinentes (transmitido pela TV PUC-SP em 20 de setembro de 1998).
Essa é uma chance ímpar de ver um autêntico integrante da teologia da libertação original, o frei, argumentando com a inteligência que seus sucessores não tiveram, bem como Olavo antes de ser possuído pela fantasia de meme que criou para si. Há escorregões, o do Frei Carlos no caso da contracepção e o de Olavo no do adultério, mas no geral o diálogo é sem igual nos dias de hoje.
Certa vez, sobre esse vídeo, o confrade Sávio Laet fez o seguinte comentário que guardei:
Basta ver o pequeno trecho que vai dos 37min: 18 até aos 41min: 16. A fala, fala por si mesma. Como educador, o professor consegue ser autoexplicativo. O que entendo é o seguinte. A absolutização da moral é um fenômeno que não nasceu na cristandade medieval. Os medievais eram antirracionalistas (não antirracionais) e, por isso mesmo, acreditavam que a figura deste mundo passa. O grande exemplo disso era a festa dos bufões, onde tudo era posto de cabeça para baixo, exatamente para evidenciar a transitoriedade da ordem presente. A moral endeusada é um fenômeno moderno e laico. E é a moral, concebida como substituta de Deus, que tem causado a maioria das nossas desordens, inclusive emocionais. Como ninguém aguenta ficar vigiando-se o tempo todo e como também ninguém consegue “produzir provas contra si mesmo”, é “natural” – numa sociedade que endeusa a moral e onde não há mais um Deus com quem se possa conversar e a quem se possa recorrer – projetar nos outros os próprios defeitos e, sem mais, desonerar-se de responsabilidades, responsabilizando os outros. Enfim: Summum jus, summa injuria! Parafraseando: o moralismo é a suma imoralidade. Os ideólogos não demoraram a perceber que a absolutização da moral está na ordem do dia. Hoje, eles não procuram mais mudar ideias, mas sim comportamentos e, mudando o comportamento, conduzem as suas vítimas ao entorpecimento, ao desinteresse, à alienação e, a longo prazo, a ter vergonha de si mesmas. E, como a moral passa a ser a última instância, a instância inapelável, estas pessoas não aceitam fazer uma revisão das suas próprias condutas, não aceitam se policiar, porque também não tem para onde ir. O moralismo é o pecado sem perdão. Hoje não há mais lugar para as Confissões de um Agostinho. Não existe mais arrependimento, porque não há mais esperança de redenção. Fazendo uma analogia com São Paulo: sem Deus, a lei só é capaz de identificar o delito, para depois deixá-lo sozinho com os seus “demônios”, sendo incapaz de exorcizá-los. Neste contexto, resta o conformismo, a fuga de si mesmo, a distração e a negação dos autênticos valores. Você só tem duas saídas: ou aceita ficar que nem boi de presépio ou todos – solenemente – serão conduzidos a ficarem contra você, demente e/ou antiético.
Uma resposta em “Diálogos Impertinentes – Moral”
Muito bom o “debate”. Entretanto nunca ouvi tanta bobagem sobre contracepção. Parece um adolescente ateísta falando e não um teólogo católico.