
Alguém mais notou que o último Advento marcou os 50 anos da entrada em vigor da terrível “reforma litúrgica” de Paulo VI e que não vimos nenhuma comemoração por parte da burocracia da estrutura?
Sendo mais preciso, o novo rito da Missa foi promulgado pelo citado Papa, de infeliz memória, no dia 3 de abril de 1969, mas só entrou em vigor, na maior parte dos países, no Primeiro Domingo Advento daquele ano. Onde estão as festas?
Não há nada de mais monumental na maquiagem da Outra que essa suposta reforma e, mesmo assim, podemos contar nos dedos das mãos as citações da efeméride pelos entusiastas das mudanças (progressistas de todo naipe, como os do site PrayTell) ou dos cleaners neoconservadores. Se estamos num novo Pentecostes, por que tanta timidez? Medo de comparar o torpor pachamâmico atual com a vibração anterior?
Deixando, agora, a ironia e a crítica ácida (de que acho merecedora quem tem consciência e aprova o que aconteceu meio século atrás), para a massa dos católicos não faz sentido a comemoração devido a um motivo gravíssimo: o esquecimento da Tradição!
Esse esquecimento se concretiza no simples fato de que a maior parte dos fiéis desconhece que antes de 1969 tínhamos, no Ocidente, outro rito da Missa. Muitos, que conversaram com seus avós, talvez saibam “que a Missa era em latim e com o padre de costas”, mas acham que era o mesmo Novus Ordo com essas características acidentais.
Como isso é possível? Como os católicos conseguem ser tão ignorantes em relação à sua história e, mais ainda, à sua história recente? Afinal, 50 anos não são nada quando comparados aos mais de 2.000 que a Igreja tem.
A resposta, embora canalha, é simples: tudo foi feito no sentido de excluir qualquer dado informativo mais abrangente; para os revolucionários o Novus Ordo deveria ser conhecido como “a Missa” e ponto final. A memória das mudanças na liturgia deveria desaparecer com o tempo, com a morte daqueles que entendem e lembram o quão radicalmente as formas de celebração no Ocidente diferiam do que temos hoje. Pelo menos no que tange àqueles que não desistiram e abandonaram a Fé, a vontade dos modernistas (dos TL pachamamas à Opus Judei, digo, Opus Dei) era de que todo católico praticante nunca soubesse que havia um “rito antigo” e agora temos um “novo rito”.
Daí o ódio gratuito em relação a quem sabe. Eles simplesmente não engolem que ainda existam tradicionalistas e que o tradicionalismo cresça. Não engolem que nós dominemos a internet pela superioridade dos argumentos, que tenhamos vocações, que tenhamos “filhos como coelhos”, que fundemos escolas ou eduquemos nossos filhos em casa, longe dos colégios que só são católicos no nome… O sucesso das transformações queridas pelos modernistas dependia de ninguém saber que havia toda uma maneira de ser, refletida no culto, antes de 1969.
A celebração da liturgia na sua forma tradicional constitui, portanto, uma medida contrarrevolucionária efetiva; uma medida que combate à superficialidade, às reduções, às diluições e banalizações da Fé que marcaram os últimos 50 anos. A descoberta da Missa gregoriana por alguém, que estude e medite sobre que se faz e é dito nela, invariavelmente leva à descoberta de verdades bíblicas, ensinadas pelos Santos Padres, vividas pelos Santos e confirmadas pelos concílios, que hoje se tornaram escandalosamente invisíveis na vida eclesial.
O motivo disso? Foco em Deus! O esquecimento de Deus é o maior problema do Ocidente e a suposta reforma litúrgica tem parte da culpa nesse fenômeno. Vejamos o que D. Acuin Reid diz no seu O Desenvolvimento Orgânico da Liturgia:
Se a liturgia é pensada como um símbolo de nossas atividades, então seu essencial foi esquecido: Deus. A liturgia não é sobre nós, mas sobre Deus. O esquecimento de Deus é o perigo mais eminente de nossa era. Contra ele, a liturgia deve ser um sinal da presença de Deus. Então, o que acontece se o esquecimento de Deus se torna um hábito na liturgia, e nela pensamos apenas em nós mesmos?
Acho que o quadro desolador da Igreja pós-conciliar responde a essa pergunta com perfeição. Se um católico não confia numa tradição de mais de 1.600 anos (idade aproximada do rito romano), ele certamente não terá muitos dos subsídios que fazem a doutrina e a moral cristãs entendíveis. Nosso Senhor Jesus Cristo disse em Mateus XVI, 24: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me”, o mesmo é verdadeiro no contexto desta reflexão, pois temos de rejeitar os falsos princípios do modernismo, tomar o peso abençoado da nossa tradição, e segui-lo, se quisermos ser integralmente católicos.
Assim, o esquecimento de Deus, que é conveniente para os revolucionários e para os relapsos, tem entre seus primeiros remédios a restauração do rito romano clássico, e o enterro, gradativo, da deforma paulina. Lembremos de Deus, lembremos da Tradição!