
Na “mitologização” do Gênesis feita na teologia contemporânea, há um eco do modernismo e da teologia protestante liberal, que negam a intervenção do sobrenatural (reduzindo a Religião a uma espiritualidade genérica e palatável ao “homem moderno”), e identificam a realidade criada ao aferível pelo método científico moderno.
Os hagiógrafos não eram homens sem Espírito, eles “viam” muito além de um pensamento racional-fantástico coroado por uma vaga “inspiração” monoteísta (criacionista) de caráter “poético” (com um “sentimento religioso” peculiar).
O Gênesis se reveste das imagens dos mitos antigos porque são relatos que se dirigem primordialmente a homens antigos, porque são as imagens de que dispõe o hagiógrafo: ele é, como os santos, simultaneamente um homem da Eternidade e um “homem do seu tempo”; mas ele discerne as imagens a utilizar, bem como sua ordem, para comunicar uma realidade (a história da formação do cosmos e do homem) verdadeira, e não mera alegoria de vago sentido teológico-metafísico.
Se há erro interpretativo de índole científica em alguns Padres e Doutores (que acorriam às filosofias segundas antigas), isto não significa que seja verdade apenas uma teologia metafísica vaga (distinta daquelas do politeísmo e do panteísmo), senão que há verdades cosmológicas reveladas além de certas metodologias científicas; verdades às quais a inteligência inspirada alude com as imagens comuns aos mitos, e cujo conteúdo real pode ser vislumbrado, por exemplo, na tese “alterista” e em certos elementos da “cosmologia tradicional” (sic).
– Joathas Bello
OBS: O alterismo é a tese que afirma que a natureza do mundo era diferente antes do pecado original

