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Eclesiologia Liturgia

História da retomada do Rito Gregoriano em Recife até 2012

Desde a reforma litúrgica do final da década de 1960 muitos estudiosos da liturgia e inúmeros fiéis ao redor do mundo lamentaram a perda de elementos que caracterizaram durante séculos o culto prestado ao Criador pela Igreja ocidental e que estão especialmente consolidados na chamada Missa Tridentina, ou melhor, no Rito Gregoriano segundo a sua forma normatizada em Trento.

No nosso país não foi diferente, pois, além do motivo citado, o rito gregoriano é parte integrante da identidade nacional, já que perfez o modo como o Santo Sacrifício foi celebrado pela primeira vez em nossas terras e a maneira como os missionários que penetraram nos sertões levaram os dons do Senhor às almas famintas.

Em nossa arquidiocese, apesar da posição oficial que dizia que tudo estava bem e que a reforma de 1969 tinha sido uma unanimidade, o sentimento de abandono derivado da maneira dirigista e muitas vezes atrapalhada com que ela foi aplicada também se fazia presente. Assim, durante anos, padres de passagem por nossa igreja particular celebraram esporadicamente a Missa segundo a forma tradicional do rito romano para grupos diversos em garagens ou outros edifícios particulares, e sacerdotes locais, como o saudoso Monsenhor José Ayrton Guedes, buscaram maneiras alternativas de atender aos anseios do povo.

Evidentemente, tudo isso era insatisfatório, e, por tal motivo, começou-se, a partir de 1996, a pedir a aplicação local das disposições exaradas pelo Beato João Paulo II (Carta Apostólica Quattuor Abhinc Annos e o Motu Proprio Ecclesia Dei Adflicta) para o cuidado dos católicos ligados ao rito gregoriano. Mas o tempo do Senhor era outro, e só depois de mais de 10 anos, com a ajuda de um amplo abaixo-assinado (que contou com as assinaturas de muitas pessoas satisfeitas com o rito romano moderno, mas que não entendiam o motivo do tesouro litúrgico que santificou as almas durante mais de 1.600 anos ficar relegado às catacumbas) e com o apoio do Cardeal Dario Castrillón Royos (então presidente da Comissão Ecclesia Dei), o Arcebispo D. José Cardoso Sobrinho permitiu as celebrações de um modo estável.

De início, em respeito às condições pastorais de nossa arquidiocese, as missas eram celebradas de um modo “privado”, nas segundas-feiras a noite ou nos sábados pela manhã, pelo Pe. Nildo Leal de Sá, na igreja matriz da paróquia da Imbiribeira ou na de Apipucos. Lá pelo meio de 2006, D. José autorizou as missas aos domingos, mas ainda com um caráter discreto.

Foi promovido em junho 2007 um curso ministrado pelo Pe. Claudiomar, liturgista da Administração Apostólica São João Maria Vianney (encerrado, no dia de São Luiz Gonzaga, com a primeira Missa cantada desde os anos 60), e começou a distribuição de um Ordinário e de um Próprio para povo.

Passaram mais alguns dias, quando, finalmente, o Papa Bento XVI, em 7 de julho de 2007, resolveu olhar com mais cuidado para os direitos dos fiéis que preferem a liturgia tradicional e lançou a Carta Apostólica em forma de Motu Proprio Summorum Pontificum (mais tarde complementada pela Instrução Universae Ecclesiae), dando ampla liberdade às celebrações. Desse modo, iniciou-se o preparo para “missas públicas”.

A primeira delas ocorreu no dia 14 de setembro de 2007, Festa da Exaltação da Santa Cruz, na capela do Seminário de Olinda:

No dia 16 de setembro do mesmo ano, um domingo, foi celebrada outra Missa na Igreja de São Cristovão e São Sebastião, com grande cobertura da mídia (Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco, TV Jornal, TV Tribuna e blogs diversos).

Desse ponto em diante as celebrações se tornaram normais, sempre nos domingos às 11h da manhã, e a preocupação do grupo de fiéis se voltou para a formação teológica das lideranças e um melhor acolhimento do povo.

No ano de 2009, D. Fernando Âreas Rifan, bispo da Administração Apostólica de Campos, celebrou a primeira Missa pontifical cantada desse processo de retomada das celebrações no rito gregoriano, num evento em que inaugurou a gruta de Nossa Senhora de Lourdes na paróquia da Imbiribeira e benzeu o novo sino da igreja. Vale salientar que ele usou o báculo de D. Vital, emprestado por D. José Cardoso.

Com o passar do tempo, tivemos casamentos e batizados na forma tradicional do rito romano, mostrando que os frutos da liberdade concedida pelo Papa Bento XVI também se refletiam na formação de novas famílias.

É digno de nota que além de Missas cantadas periódicas, presenciamos mais uma Missa pontifical, rezada por D. Rifan, no dia 16 de junho de 2010. Esse mesmo bispo, poucos dias depois (19 de junho), celebrou outra Missa na catedral de Garanhuns, como encerramento do primeiro Congresso Summorum Pontificum, no qual contou (a pedido de D. Fernando Guimarães) com a ajuda dos fiéis de Recife, que mesmo debaixo de fortes chuvas (as que inundaram Palmares) se dispuseram a ir até o Agreste.

Durante essa época, além do Pe. Nildo, também celebraram aqui em Recife o Mons. Edvaldo Bezerra, o Pe. Moisés Ferreira de Lima e o Frei José de Arimáteia OFMconv., e inúmeros outros membros do clero (padres e diáconos) e de religiosos leigos participaram das missas, sempre bem acolhidos e com as dúvidas sanadas ao máximo possível.

Infelizmente, na segunda metade de 2010, uma série de transtornos no relacionamento do grupo dos católicos que buscam manter o patrimônio litúrgico da Igreja com o Pe. Nildo desencadeou um processo (destacado em sites de audiência mundial) que levou à transferência da Missa para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares (precisamente no dia 24 de abril de 2011), agora sob a responsabilidade do referido Mons. Edvaldo. Na resolução dos problemas a condução pastoral de nosso atual arcebispo, D. Fernando Saburino, foi decisiva, mostrando que na Arquidiocese de Olinda e Recife todos os católicos ortodoxos são acolhidos sem distinção.

No restante do ano de 2011 os fiéis ligados à liturgia romana tradicional procuram se organizar melhor, promovendo dois cursos sobre o simbolismo das cerimônias da liturgia (apoiados pelo Círculo Católico de Pernambuco), a publicação de novos Próprios e a tentativa de formação de um coral. Para encerrar o ano, uma Missa cantada foi celebrada no Natal com a ajuda de integrantes do coral da UFPE.

O começo do ano de 2012, por sua vez, trouxe muitas novidades. Uma das que se deve destacar foi a da conversão de alguns jovens à fé católica, do meio dos quais saiu o primeiro batismo de adulto no rito gregoriano desde 1969; outra foi a integração de novos casais jovens ao grupo de fiéis; e, por fim, a vinda de mais um sacerdote, o Pe. Expedito Nascimento S.J., para celebrar o Santo Sacrifício.

Eventualmente a Missa também foi celebrada na igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, na da Soledade e na da Ordem Terceira do Carmo.

No entanto, algumas das iniciativas que propostas para alimentar a espiritualidade dos frequentadores não foram efetivadas, como a preparação de um almoço para os moradores de rua durante a Quaresma e uma peregrinação até o Santuário do Sagrado Coração. É bom frisar que nenhuma delas saiu de nosso horizonte, pois sabendo que a Missa é o centro da vida católica, é necessária uma “periferia” composta de atividades individuais (como a oração pessoal) e atividades comunitárias.

Em 2012 tivemos nossa primeira Procissão de Ramos e um aumento das celebrações fora do domingo (como a de Cinzas, a de Finados e a de Nossa Senhora da Conceição).

No final desse ano o Pe. André de Vasconcelos Martins, dada a necessidade do Pe. Expedito ir para o interior do estado, passou a ajudar o Mons. Edvaldo na condução das missas, e, em dezembro, celebrou aquela que foi a primeira Missa cantada de Réquiem em mais de 40 anos na nossa arquidiocese, contando com a contribuição de músicos ligados à UFPE e aos conservatórios da Paraíba e Pernambuco.

Por fim, ainda no término do ano passado, tivemos a grata notícia de que um vocacionado saído do grupo de fiéis recifense recebeu a batina numa cerimônia na Alemanha presidida pelo arcebispo de Vaduz.

Até agora essa foi a caminhada do Coetus Fidelium Olindensis et Recifensis e, para o futuro, além de crescer em número, pretendemos nos integrar melhor e colaborar com outros grupos de nossa igreja particular.

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