Apresento aos leitores, como todos os anos, o Ordo dominical do rito romano tradicional, cuja autoria é de Karlos Guedes:
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Uma explicação sobre a Santa Missa segundo o rito carmelita (uma das formas tradicionais de celebração associadas ao rito romano histórico):

Tradução e adaptação de um texto do Dr. Peter Kwasniewski:
Os que suportam sofrimentos e têm fé em Jesus Cristo querem ser curados por Ele de alguma forma, em algum nível. Nos Evangelhos a maneira óbvia de fazer isso era tocar o Divino Mestre ou ser tocado por Ele. Todos tinham visto que Jesus era poderoso para curar, que a cura “saía Dele” e, portanto, acotovelavam-se e empurravam-se para ver se podiam atrair Sua atenção, entrar em contato com Sua mão ou vestimenta, ou mesmo Sua sombra.
Apresento aos leitores uma das análises mais criativas que já vi sobre o a perseguição ao patrimônio da Igreja, concretizado no rito romano tradicional, que foi iniciada pelo “Papa” Francisco:

Tradução de um artigo publicado no Rorate Caeli. Mesmo discordando da solução proposta pelo autor, entendo que o texto possui insights acertadíssimos sobre a situação atual.
A terra de ninguém litúrgica ou a Igreja ritual
A Missa de domingo celebrada na Basílica de São Pedro no “Rito do Zaire” levantou questões (por exemplo, aqui) sobre a relação deste “rito” com a liturgia Novus Ordo, e se isso contradiz a afirmação do Papa Francisco de que a liturgia prescrita no Missal de Paulo VI é a única lex orandi da Igreja Católica de rito latino.
O próprio Papa Francisco praticamente respondeu a essa pergunta dizendo que ele próprio celebrou uma missa neste rito em sua Igreja Episcopal (em 1º de dezembro de 2019) e compareceu no último domingo no mesmo local quase “in choro”. Presumivelmente, ele se sentiu impedido por seus problemas de saúde de celebrar por si mesmo. Ambas as celebrações aconteceram no altar da cátedra atrás do altar principal – provavelmente para oferecer à comunidade africana não muito grande em Roma um cenário mais apropriado.
Além dessas ações práticas, há também declarações “teóricas” do Papa sobre o assunto. Em junho passado, uma edição francesa do livro O Papa Francisco e o Missal Romano para as Dioceses do Zaire, já publicado em italiano em 2020, foi apresentada em Roma na presença de Francisco. Ao fazê-lo, Francisco disse, entre outras coisas: “O Missal Romano para as Dioceses do Zaire é, até agora, o único Missal Romano inculturado que surgiu da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II”.
Em seu prefácio a este livro (que infelizmente não está disponível para nós), Francisco afirma que este Missal inculturado representa um convite especial do Espírito Santo aos fiéis para levar seus diversos dons a toda a humanidade. Especificamente, ele expressa ali a expectativa de que o “rito do Zaire” possa formar o modelo de um “rito para a Amazônia”.
De acordo com isso, então, não pode haver dúvida de que, aos olhos de Francisco, o “rito do Zaire” corresponde à liturgia supostamente pretendida pelo Concílio e, portanto, representa uma forma legítima da “única expressão do rito romano”. Para isso, Francisco também pode reivindicar a conformidade literal com o art. 1 da TC: “Libri liturgici a sanctis Pontificibus Paulo VI et Ioanne Paulo II promulgati, iuxta decreta Concilii Vaticani II, unica expressio ‘legis orandi’ Ritus Romani sunt.” Em suma: tudo o que foi promulgado e será promulgado depois do CONCÍLIO é uma expressão válida do Rito Romano – tudo o que era antes não é (mais).
Como sempre acontece quando Francisco tenta fazer uma declaração firme, esta só começa a multiplicar as perguntas para todos que não reduziram sua compreensão da tradição até o mandato do pontífice atualmente no cargo.

Tradução e adaptação de um texto do Dr. Peter Kwasniewski:
Se saírdes de vosso país para fazer a guerra contra os inimigos que vos atacam, fareis soar, com estrépido, as trombetas, e o Senhor vosso Deus se lembrará de vós, para vos livrar das mãos dos vossos inimigos. (Números X, 9)
Na tradição judaica, a trombeta, ou o shofar, era tocada para anunciar a lua nova, o novo mês e o novo ano; anunciar a vinda do Senhor (lembremos de como a Festa das Trombetas é celebrada antes do Dia da Expiação); reunir o povo para o Senhor (os judeus até acreditavam que esse seria o mecanismo que convocaria os mortos para virem ao Julgamento Final); e para soar o alarme e começar o ataque (lembremos das histórias sobre os muros de Jericó e as outras batalhas do Antigo Testamento onde a Arca da Aliança foi levada para a batalha).
O livro do Apocalipse nos dá uma palavra sobre a trombeta. Em dois versículos particulares, São João identifica a trombeta com as palavras de um anjo: “Cai em êxtase, no dia do Senhor, e ouvi por detrás de mim uma grande voz, como de trombeta” (Apocalipse I, 10); “Depois disto tive uma visão: Uma porta estava aberta no céu, e a voz, aquela primeira voz que eu tinha ouvido, como de trombeta, falava comigo, dizendo: ‘Sobe aqui e mostrar-te-ei as coisas que devem acontecer depois destas'”.
O Apóstolo João, que certamente celebrou a Festa das Trombetas (Rosh Hashanah), entendia que essa festa não podia ser simplesmente abolida, antes deveria encontrar um significado no Evangelho, segundo o princípio: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas; não vim para os abolir, mas sim para os cumprir” (Mateus V, 17). As festas deveriam continuar de alguma maneira no tempo da graça. Mas o que corresponderia a essa festa no Novo Testamento, a na Igreja atual?
A restauração tridentina
A restauração litúrgica (melhor que “reforma”) de Trento ou de S. Pio V tanto conhecia formas mais antigas da Liturgia Romana, quanto foi deliberadamente antiarqueologista, reconhecendo a Liturgia da Idade Média como a “forma antiga” que havia sido o ponto de chegada do legítimo desenvolvimento das formas primitivas (ao contrário do que imaginavam Bugnini e Paulo VI, que diziam que o resultado da reforma do século XVI “foi limitada pela ciência da época”):
“Pelos padrões do século XX, a quantidade de investigações sobre as origens e a história do desenvolvimento litúrgico disponível para esta comissão era minúscula. Sabemos, no entanto, que a comissão teve acesso a manuscritos antigos dos quais eles poderiam, sem dúvida, ter destilado um rito mais puro e antigo ou desde os quais poderiam ter desenhado formas antigas para substituir as de origem posterior.
Vimos, porém, que os mesmos papas responsáveis pela reforma litúrgica de Trento rejeitaram o antiquarianismo litúrgico do cardeal Quignonez. Os reformadores tridentinos não se sentiram livres para seguir esse caminho. Em vez disso, as formas litúrgicas desenvolvidas organicamente de origem posterior foram respeitadas como legítimas.
O princípio fundamental dessa reforma era, de fato, o da restauração. Mas não foi uma restauração baseada em princípios protestantes, iconoclastas ou antiquarianistas, nem foi uma reforma que buscou inovar. Foi uma restauração que buscou recuperar a beleza da Liturgia Romana. O organismo foi podado para voltar a florescer. Certamente, ‘o padrão da comissão era a antiguidade’, mas por antiguidade a comissão entendia a liturgia romana desenvolvida do século XI: o missal da Cúria Romana difundido pelos franciscanos.
Assim, a frase usada pela bula Quo primum de São Pio V para descrever o princípio fundamental da reforma de Trento, “ad pristinam Missale ipsum sanctorum Patrum normam ac ritum restituerunt” (restaurou o próprio missal à norma prístina e ao rito dos santos Padres), não significa, quando lida em seu contexto, um retorno a alguma forma supostamente ‘pura’ da Liturgia encontrada na antiguidade, como as nascentes formas litúrgicas, digamos dos primeiros quatro ou seis séculos, como é assumido hoje. Em vez disso, eles se referiam a formas litúrgicas desenvolvidas com uma Tradição viva de mais de duzentos anos. A provisão de São Pio V em Quo primum para a continuação dos ritos locais que têm um costume desta extensão ilustra precisamente onde os limites da antiguidade estavam em sua mente”.
(Dom Alcuin Reid, The Organic Development Of The Liturgy)
– Joathas Bello