Novamente a aplicação do ENEM gerou polêmica, mas dessa vez não foi por causa de fraudes e sim pelo conteúdo ideológico da prova (e só se surpreendeu com isso quem é muito inocente), que pode ser vislumbrado no seguinte comentário do Sr. Sérgio Nunes no Facebook (que tomei conhecimento por meio do confrade Eduardo Gomes):
Sobre o ENEM, julguem por si mesmos:
Dei uma breve analisada nas 45 questões de ciências humanas, e separei alguns autores citados e temas mencionados. Será que os jovens estão sendo treinados para analisarem as diversas visões de mundo? Ou apenas uma?
A questão aqui não é contradizer ou discutir a opinião de algum autor específico, ou ainda algum tema, mas mostrar que apenas um lado é discutido. Seguem alguns citados e alguns temas:
– Nada como começar com o filósofo Slavoj Zizek, uma das estrelas do marxismo atual, que nesta prova, emergiu com um texto propondo um ato de alteridade, comparando a ação do exército americano com o terrorismo do Talibã.
– David Harvey, geógrafo marxista que propõe a ocorrência de um cataclisma no sistema de produção capitalista (não especificamente na questão desta prova).
– Karl Mannheim, muito influenciado pelo marxismo, apesar de posteriormente se afastar da hipótese de violência revolucionária. Estudou em um Grupo de estudos de Lukács. Na questão, obviamente propõe que a visão individual é condicionada pela sociedade.
– Simone de Beauvoir, com suas ideias feministas, arguida por ter sido ao mínimo colaboracionista com o regime nazista, com algumas ideias que podem associar-se com pedofilia, e misandria.
– Robert Reich, democrata americano, que contra todas as evidências empíricas, propõe uma hipótese de relação inversamente proporcional entre capitalismo e democracia. Para ele: “tax are the price we pay for a civilized society”. Se posiciona criticamente à teias globais.
– Milton Santos, geógrafo com posições anti-globalização, anti-capitalismo, anti-burguesia, pró-socialismo.
– Agostinho Neto, antigo governante de Angola de partido de esquerda, inicialmente marxista, posteriormente centro-esquerda.
– Maria da Glória Gohm, professora de educação da Unicamp, defensora dos Conselhos Populares e do MST.
– Paulo Freire, que dispensa apresentações, um dos pilares da falha educacional no país, com sua educação libertadora, que não educa e nem liberta.
– Sidney Chaloub, historiador da Unicamp, que afirma: ” O governo Dilma foi exemplar nesses quesitos. Por conseguinte, a hipocrisia de caluniá-lo por isto é especialmente danosa à democracia e ao atual processo eleitoral”.
– Ali Masrui, apesar de crítico do comunismo na África, porém tb é crítico do capitalismo e neoliberalismo no continente, com posições contra Israel.
– Jacques Le Goff que considerava-se “um homem de esquerda”.
– Muniz Sodré que integra(ou) o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do governo, votou em Lula, apesar de tecer algumas críticas recentes.
– Porto Gonçalves, membro do Grupo Hegemonia e Emancipações do Conselho Latino-americanos de Ciências Sociais (Clacso). Colunista (ou ex) da Revista Carta Maior.
– Nicolau Sevchenko, que afirmou sobre a elite: “esse processo como uma espécie de estratégia dos grupos dominantes para manter o sistema de privilégios nos quais estão encastelados desde a colônia”. Fala a favor de grupos civis que são críticos a biotecnologia.
– Wlamyra Albuquerque, pesquisadora que dentre seus artigos, escreveu para revista Perseu, da Fundação Perseu Abramo do Partido dos Trabalhadores (PT).
– Lilia Morics Schwarz, professora da fflch, também empática ao conceito de conflito de classes e preconceitos, favorável a cotas.
– Ziraldo, que aparece com uma charge, não sendo demais afirmar que integrou comitiva com a Dilma, e diz que a ama.
– Sergio Buarque de Holanda, vinculado à esquerda.
– James Rachel, com tendências utilitaristas, defensor de ações afirmativas e ideias vegetarianas.
– Cita a publicação Caros Amigos, de tendência óbvia.
– De formação clássica, os únicos autores citados que detectei foi David Hume e São Tomás de Aquino.
– Em relação aos temas várias questões ambientais, a proposição de grupos criminosos como o mst como forma de atuação democrática, questiona a direção econômica da China como oposição à extinção de classes, aborda a crise de 2008 com epicentro nos EUA esquecendo da crise atual com epicentro AQUI mesmo.
Ressalto que a questão no momento (isto pode ser feito em momento oportuno) não é combater qualquer um dos aspectos acima, uma vez que os estudantes devem conhecer todos os lados e abordagens, mas sim mostrar que os estudantes tem tido acesso apenas a uma visão de mundo, sendo tolhidos de maiores incursões em uma cultura mais geral. Mostrar também mais uma ingerência ideológica governamental na educação dos jovens.
A prova falou por si e nos deixa com a indagação sobre o que fazer para conter essa programação mental tão agressiva que o sistema educacional do país fornece. Em tempo: colocar Jacques Le Goff e Ali Masrui nessa lista negativa me parece um exagero.