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Para reconstruir a cultura católica, temos de reconstruir a cultura

Tradução e adaptação de um texto do Dr. Joseph Shaw publicado no Life Site News:

Um amigo meu, comentando sobre o problema de transformar a escola nominalmente católica que seu filho frequenta numa escola genuinamente católica, lembrou que antes disso ela tinha que se tornar uma escola de verdade. Seu ponto era que essa instituição era tão ruim que não só falhava em transmitir a fé, mas sequer cumpria aquilo que se espera de qualquer estabelecimento de ensino: transmitir conhecimento. Não faz sentido falar numa escola católica se não há nem mesmo uma escola.

É claro que os esforços para tornar essa instituição mais católica podem ajudá-la a cumprir sua missão educacional em todos os níveis. No entanto, o problema não é simplesmente vestir uma escola eficaz com um ethos católico, é algo mais profundo.

A mesma observação pode ser feita sobre a cultura ocidental. Com exceções parciais ou isoladas, podemos ver que a cultura ao nosso redor não é católica, mas também podemos perceber que dificilmente ela pode ser chamada de cultura. Por cultura entendo uma compreensão compartilhada de instituições, como a família e o Estado, e as normas sociais correspondentes que apoiam essa compreensão.

Para ilustrar, até a primeira metade do século XX, as sociedades ocidentais ensinavam aos filhos histórias que reforçavam uma concepção particular de casamento e família; a mesma concepção era apoiada pelo direito civil e pelas expectativas e sanções sociais; e o mesmo modelo era experimentado pela grande maioria das pessoas. O mesmo vale para o entendimento de qual era o papel do Estado, o lugar da religião na sociedade, os papéis de cada gênero e mil outras coisas. Esses entendimentos compartilhados, que assumiam sabores diferentes em cada país e em cada grupo cultural ou étnico, eram a base para um senso de solidariedade.

Não é preciso imaginar que a cultura de qualquer época ou lugar foi perfeita para perceber que uma sociedade que carece de cultura no sentido que estou trabalhando está com sérios problemas. Mas essa é a nossa situação hoje. Os velhos modelos de como viver não desapareceram completamente, mas não são mais apoiados por um consenso social. Nossas crianças estão continuamente expostas a mensagens contraditórias, e as leis civis e sociais não apenas falham em apoiar o modelo antigo, mas em muitos aspectos trabalham para miná-lo. Por outro lado, esse modelo não foi substituído por uma alternativa consistentemente aplicada, amplamente compreendida e coerente.

Dizem-nos que podemos escolher qualquer modelo pelo qual desejamos viver, e é claro que muitos continuam a escolher o casamento monogâmico, que dura a vida toda e está aberto à geração de filhos. Não se pode, contudo, escolher com facilidade uma sociedade para viver onde essa escolha é apoiada, respeitada ou mesmo compreendida. A cultura, na qual essa compreensão do casamento já foi parte integrante, desapareceu.

Alguns aspectos da cultura tradicional do Ocidente eram um reflexo necessário da Lei Divina e da Lei Natural. Outros aspectos eram moralmente neutros e podiam legitimamente variar de lugar para lugar e ao longo do tempo. Certamente, alguns estavam em conflito com a moral e precisam ser corrigidos. No geral, porém, essa cultura proporcionou às pessoas um conjunto de expectativas compartilhadas e apoio social que é a condição normal da vida humana, mas falta hoje.

Uma resposta necessária a essa crise cultural é apoiar os esforços sociais e políticos para restaurar pelo menos as partes do antigo consenso vinculadas ao Direito Natural. O viés em muitos sistemas tributários e de benefícios contra o casamento, e mesmo contra a coabitação de longo prazo, é um exemplo de algo que deve ser combatido no espaço apropriado, o político. Mas, enquanto isso ocorre, é necessário que os católicos reconheçam que, embora minoritários, devem se ver como uma comunidade real, capaz de sustentar uma cultura distinta.

Hoje, este não é, geralmente, o caso. Nossos amigos e conhecidos católicos não tendem a dominar nossas vidas sociais e, portanto, seus pontos de vista – sua desaprovação da coabitação antes do casamento, por exemplo – não formam uma parte importante do pano de fundo para nossa tomada de decisões. É impossível falar de uma cultura católica, mesmo entre os católicos que frequentam igrejas, sem um consenso saudável sobre as questões-chave de como viver e um senso funcional de comunidade: em geral, não temos nenhum dos dois.

No entanto, o reconhecimento de que esses dois pontos devem caminhar juntos, especialmente por aqueles que defendem a vida ou lutam contra a autodemolição da Igreja, começa a mudar esse quadro. Uma comunidade está lentamente se estabelecendo, tanto em localizações geográficas específicas quanto pela internet. Não podemos existir como indivíduos isolados ou como famílias isoladas: precisamos do apoio e, às vezes, da correção de uma comunidade com uma cultura compartilhada.

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