Muitos fatos interessantíssimos da história de nosso país continuam desconhecidos da maior parte da população, seja pela maneira como a formação do Brasil é ensinada nos estabelecimentos de ensino, seja pela falta de interesse de vários compatriotas que não entendem que ninguém pode se amar verdadeiramente enquanto não se conhecer (e para nos conhecermos temos de entender algo sobre a nação e a civilização em que a Providência quis que nascêssemos). Isso se agrava ainda mais no que tange à história da Igreja no Brasil, muitas vezes lida de modo superficial e/ou ideologizado; assim, me surpreendeu positivamente saber que no ano de 1709 foi publicado o Catecismo Indico da Língua Kariris de autoria do Frei Martinho de Nantes, missionário capuchinho francês, e publicado por Frei Bernardo de Nantes.
O catecismo do Frei Martinho foi escrito em duas línguas, português e cariri dzubucuá. Esta última era a língua falada pelos índios cariris dzubucuás que, num certo momento da história, habitavam a região do rio São Francisco, especialmente a região compreendida entre Cabrobó e Orocó no atual estado de Pernambuco.
Na apresentação, a obra coloca como objetivo “servir ainda cá (Portugal) aos índios, já que não o posso mais fazer lá, e ter a consolação de poder ainda continuar de algum modo no meu retiro o exercício da missão.” O catecismo foi publicado em Portugal, todavia foi produzido “nos annos que gastei em seu ensino, e regimento espiritual”. Isto quer dizer que a obra foi escrita durante o trabalho de catequese com os cariris nas ilhas de Aracapá, Irapuá (= Santa Maria) e Pambu (= Ilha da Assunção). Ou seja, essa obra foi publicada em Portugal, mas foi escrita no Brasil, e interessa a toda a Igreja, aos estudiosos das culturas indígenas, aos catequistas e de modo especial aos moradores do submédio São Francisco que trazem marcas genéticas e culturais dos cariris.
Fonte: The Jesuits: Cultures, Sciences, and the Arts, 1540-1773 (publicado originalmente na página A Terra da Santa Cruz e adaptado para este blog)
Uma resposta em “Um livro de catequese fundamental para a antropologia brasileira”
O que mostra o amor da Igreja Católica em querer salvar as almas dos indígenas, apresentando Cristo na própria língua deles.
Excelente informação!