Um artigo que foi escrito no bojo da eleição presidencial do ano passado, mas que não canso de ler pois apresenta um problema permanente da política brasileira atual (cuja solução seria um partido conservador?):
Sem voz e sem vez
Digamos que o leitor desta página, que estará votando ou já votou nas eleições de 5 de outubro, não seja índio, quilombola nem pertença a nenhum outro grupo que se apresenta como oprimido. Há grandes chances, também, de que não seja sem terra, sem teto nem invasor de propriedade alheia, rural ou urbana – e que não more numa “comunidade”, favela, cortiço, debaixo de um viaduto nem um abrigo de indigentes. É muito provável que não seja surdo, mudo, gago, anão nem portador de deficiências físicas. Não é beneficiado por cotas de nenhum tipo. Não cheira pó, não injeta droga na veia, não fuma crack nem vive nas cracolândias das cidades brasileiras. Não recebe o Bolsa Família nem se inscreve no MSTS para furar a fila do Minha Casa Minha Vida. Não toca fogo no ônibus e não interrompe avenidas com barreiras de pneus queimados para protestar contra algo que desaprova. Não é presidiário. Não está condenado por infração ao Código Penal nem fugindo de nenhuma ordem de captura, nacional ou da Interpol. Nunca tem problemas com a polícia nem queixas contra o comportamento de policiais. Não é “ativista”, como se combinou chamar os delinquentes que saem à rua para expressar sua opinião com foguetes, pedradas ou coquetéis molotov. Não é black bloc. Não conhece Sininho.


