A origem da festa de São João no Brasil segundo Câmara Cascudo:

João, santo católico, primo de Jesus Cristo, nascido a 24 de junho, degolado no castelo de Macheros, Palestina, a 29 de agosto do ano de 31. Pregador de alta moral, áspero, ascético, São João é festejado com as alegrias transbordantes de um deus amável.
Coincide seu nascimento com o solstício de verão (de inverno para América Austral), quando as populações do campo festejavam a proximidade das colheitas e faziam os sacrifícios para afastar o demônio da esterilidade, pestes dos cereais, estiagens, etc. Toda a Europa conheceu essa tradição de acender fogueiras nos lugares altos e mesmo nas planícies, as danças ao redor do fogo, os saltos sobre as chamas, todas as alegrias do convívio e dos anúncios de meses abundantes.
Os cultos agrícolas foram na Europa e com informação universal, divulgados no domínio do folclore e da etnografia por James George Frazer, que recenseou centos e centos de cerimônia das fogueiras votivas e festas propiciatórias em junho-julho.





Para o Brasil a devoção foi trazida pelos portugueses e espalhada com a satisfação de um hábito agradável. A maneira de comemorar o santo era a mais sugestiva e fácil para o proselitismo. Os indígenas ficaram seduzidos. Em 1583 o jesuíta Fernão Cardim, indicando as três festas religiosas celebradas pelos indígenas com maior alegria, aplauso e gosto inicial, escreveu: “A primeira é as fogueiras de S. João, porque suas aldeias ardem em fogos, e para saltarem as fogueiras não os estorva a roupa, ainda que algumas vezes chamusquem o couro’’. (Tratado da Terra e Gente do Brasil, 326; Rio de Janeiro, 1925). O Francisco Frei Vicente do Salvador, na segunda década do séc. XVII, informava que os indígenas “só acodem todos com muita vontade nas festas em que há alguma cerimônia, porque são mui amigos de novidades, como dia de S. João Batista por causa das fogueiras e capelas’’. (393, História do Brasil, São Paulo, 1918).
A festa junina foi resignificada como a festa de São João Batista, estabelecido pela Igreja Cristã indivisa no século IV d.C., em homenagem ao nascimento de São João Batista, que a Bíblia registra como sendo seis meses antes de Jesus. Como as igrejas cristãs ocidentais marcam o nascimento de Jesus em 25 de dezembro ( Natal ), a festa que marca o nascimento de São João (Dia de São João) foi marcada seis meses antes.
A Encarnação de Cristo estava intimamente ligada aos “dias crescentes” (diebus crescententibus) do ciclo solar em torno dos quais se baseava o ano romano. No século VI, este ciclo solar foi completado ao equilibrar a concepção e o nascimento de Cristo com a concepção e o nascimento de seu primo, João Batista. Tal relacionamento entre Cristo e seu primo foi amplamente justificado pelas imagens das Escrituras. O Batista foi concebido seis meses antes de Cristo (Lucas 1:76); ele próprio não era a luz, mas deveria dar testemunho a respeito da luz (João 1:8–9). Assim, a concepção de João foi celebrada na oitava calenda de outubro (24 de setembro: próximo ao equinócio de outono) e seu nascimento na oitava calenda de julho (24 de junho: próximo ao solstício de verão). Se a concepção e o nascimento de Cristo ocorreram nos “dias de crescimento”, era apropriado que os de João Batista ocorressem nos “dias de diminuição” (diebus decrescentibus), pois o próprio Batista havia proclamado que “ele deve crescer; mas devo diminuir’ (João 3:30). No final do século VI, a Natividade de João Batista (24 de junho) tornou-se uma festa importante, contrabalançando no solstício do verão a festa de Natal do solstício de inverno.
Fonte: Dicionário do Folclore Brasileiro – via Terra da Santa Cruz






