Com toda a vênia devida a um Sucessor dos Apóstolos e invocando o Cân. 212 do CDC, o qual me dá direito de manifestar as minhas necessidades aos Pastores e dar minha própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja, eu vou comentar um trecho de um texto de Dom Henrique Soares da Costa, na época, Pe. Henrique, sobre a Missa Gregoriana, ou Tridentina.
Há um endeusamento da Missa de São Pio V que é errado, fora de contexto e trai a grande tradição litúrgica da Igreja. A Igreja tem, teve e terá sempre o direito e o dever de modificar seus ritos, de acordo com as circunstâncias e o discernimento da legítima autoridade apostólica, desde que não fira a essência mesma da estrutura sacramental.
No livro A Reforma Litúrgica Romana, prefaciado pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, o Monsenhor Klaus Gamber, ao analisar as reformas anteriores a de Paulo VI, chegou às seguintes conclusões:
Ontem foi o dia de São João Fisher que, juntamente com São Thomas Morus, é um dos mais famosos mártires do tempo da pseudo-reforma na Inglaterra. E a história dele e de seu companheiro no Céu nos ensinam muito sobre como lidar com os escândalos (ou decepções) que envolvem as lideranças da Igreja de tempos em tempos.
São João Fisher nasceu em 1469 e São Thomas Morus em 1478, ambos morreram em 1535. Viveram, portanto, numa época de dissolução interna que parece inimaginável para muitas almas piedosas de nossos dias.
Vejamos, em 1492, quando São João Fisher estava no início dos anos vinte e Thomas Morus na adolescência, Alexandre VI foi eleito papa e reinou por pouco mais de 11 anos. Seu papado ficou marcado por sua vida escandalosa, pelo seu nepotismo e por sua venalidade. Após as poucas semanas do breve reinado de Pio III, o papa Júlio II foi eleito. Como cardeal, ele havia gerado três filhas, e por causa de sua violência era conhecido como Il Terribile. Foi sucedido em 1513 pelo Papa Leão X, um conhecido nepotista, cujo luxo o distraiu de lidar eficazmente com Lutero e os primórdios das heresias protestantes. Após o breve papado de Adriano VI, Clemente VII foi eleito. Ele estava, pelo menos, livre de censura na vida privada, mas foi um líder irresoluto e ineficaz. O Papa Paulo III foi o último papa na vida dos dois santos. Como cardeal Farnese, ele tinha sido conhecido como “Cardeal da Anágua” (obs: anágua, para quem não sabe, é uma antiga peça íntima feminina, como uma saia que se vestia embaixo do vestido) porque sua irmã Júlia foi amante de Alexandre VI. O próprio cardeal Farnese tinha uma amante com a qual teve três filhas e um filho. Quando se tornou Papa, reformou sua vida e é conhecido pela história por convocar o Concílio de Trento.
Tudo isso seria suficiente para que alguém deixar a Igreja? Não se se trata dos dois santos citados. A vida devocional honesta de São João Fisher e São Thomas Morus significou que eles fizeram das palavras e dos exemplos uma campanha pela reforma da Igreja, significou que eram uma “pedra de tropeço” para os fariseus da época, mas a posição deles fica realmente clara no martírio. Eles morreram pela autoridade do Papa no caso do casamento do rei. Conseguiram ver a distinção entre o homem e seu ofício com tanta clareza que foram executados em defesa da autoridade da Santa Sé. Assim devemos fazer.
Como um padre evitou a extinção de uma das mais belas paróquias de Chicago e com isso revitalizou o centro da cidade.
Em muitas das grandes cidades há o total abandono do seu centro, o que tem como consequência a criação de pontos de venda de drogas e prostituição.
Até aí nada além do esperado para a sociedade que trocou a busca de Deus pela busca do “divino” e “espiritual” (não existe nada menos concreto que essa ideia) com o intuito de justificar sua inércia espiritual.
Mas, no centro de Chicago, uma das cidades mais populosas dos Estados Unidos, surge uma comunidade que mudou o rumo local.
Trata-se da Paróquia de Saint Jonh Cantius, de origem polonesa, desenhada em 1898 por Adolphus Druiding e terminada 5 anos depois. A Igreja é um dos melhores exemplos de beleza arquitetônica na cidade de Chicago. Seu belo interior barroco permaneceu intacto por mais de um século e é conhecido pela sua opulência e grandeza, herança da suntuosa arte e arquitetura polonesa do século XVIII. A imponente torre de quase 40 metros de altura é facilmente vista nas proximidades.
Em 1988, o Pe. Frank Fillips foi enviado por seus superiores para uma tarefa que nenhum pároco em sã consciência deseja: fechar as portas da sua freguesia.
Os descendentes poloneses haviam sumido, os prédios locais estavam degradados, não havia moradores na região e as empresas tinham desaparecido.
O Pe. Frank Fillips pensou consigo que poderia voltar a atrair pessoas se encorajasse os paroquianos a aprender o Ofício Divino e participar dos cânticos latinos da Igreja, fazendo da Matriz um lugar onde os fiéis podem participar de uma liturgia reverente e acompanhada de uma bela música.
Com a volta da reverência litúrgica a comunidade cresceu ao ponto que pôde financiar o Pe. Frank para a restauração da Igreja Matriz em 2012. E de um aspecto sujo, a Igreja voltou à sua bela condição original.
Três coros litúrgicos foram criados: um especializado em canto gregoriano, o outro em Polifonia Vieniense e um terceiro em Polifonia Renascentista (algo impensável até então). Também foram criadas turmas regulares de latim e grego para introduzir os fiéis às línguas universais da Igreja, catequese e passou a se realizar no local eventos culturais católicos.
A empreitada recebeu forte apoio da Arquidiocese local. O Bispo Auxiliar D. Joseph Perry (um exímio defensor do latim na liturgia) deu apoio integral ao Pe. Frank.
Com total crescimento, o Pe. Frank recebeu autorização do Cardeal George, em 1998, para criar a Sociedade dos Cônegos Regulares de Saint John Cantius, uma associação de sacerdotes que trabalham para a restauração da beleza na liturgia católica. Eles celebram o Rito Romano na forma Ordinária (tanto em latim como em inglês) e na forma Extraordinária.
Assim feito, o bairro em torno da Paróquia de Saint Jonh Cantius agora é um lugar moderno de se viver. Tornou-se um lugar que pôde vivenciar a renascença urbana. A Igreja até mesmo abriu um café para atender seus vizinhos.
Esse é um exemplo que a partir da organização da comunidade, com a perseverança e liderança do pároco é possível reconquistar os fiéis e até mesmo conquistar os infiéis.
Da mesma forma que a Igreja recolheu os cacos da Antiguidade e sobre isso criou a mais bela e esplendorosa Civilização, também agora nós recolheremos os cacos da Modernidade e criaremos outra ainda maior.
Aqui temos um belo vídeo que mostra mais detalhes e imagens da história que acabei de contar:
Pareceria haver grave necessidade hoje em nosso país de instrução exata e clara sobre a obrigatoriedade e a qualidade do amor que os católicos devem ter pela verdadeira Igreja de Jesus Cristo. A afeição de um católico pela sua Igreja é uma realidade valiosa demais para ser descuidada ou simplesmente considerada como coisa já consolidada. O católico que falha em dedicar à Igreja uma devoção e uma lealdade generosas arruína a sua própria vida espiritual e subtrai da obra corporativa de Cristo na sociedade de Seus discípulos. A fim de que a nossa gente possa ser preservada dos efeitos calamitosos que decorrem da minimização ou da retenção do amor pela Igreja, explicitar alguns ensinamentos sobre esse ponto é sumamente oportuno.
No Catecismo sobre o Sedevacantismo falei sobre os bispos Dolan e Sanborn dos Estados Unidos que coordenam o trabalho num dos melhores seminários que aderem ao sedeprivacionismo, o Most Holy Trinity Seminary, pois bem, sem fazer nenhuma adesão ao que eles pensam, achei interessantíssima a iniciativa de se entrevistar alguns alunos da citada instituição. Nas entrevistas, feitas pelo Padre Despósito, que vou compartilhar abaixo, temos jovens psicologicamente saudáveis, vindos de diferentes contextos (escola pública, família luterana, outros seminários tradicionalistas, família aristocrática, etc), e que defendem suas convicções sem as maluquices que marcam tantos dos ambientes da resistência (uso essa palavra, como fazia nos tempos do Orkut, para designar a resistência aos desmandos pós-conciliares, não ao grupo criado por D. Willianson):
Ontem coloquei nas leituras selecionadas um texto do Prof. Carlos Ramalhete publicado no Medium no qual ele analisa o pontificado de Francisco segundo um marco histórico-sociológico traçando a caminhada administrativa e pastoral da Igreja da Idade Média até Trento e de Trento até os nossos dias. É interessante que várias das conclusões a que ele chega, em especial no que tange às conseqüências da burocratização da vida eclesial com a contra-reforma, é algo que eu mesmo já tinha notado antes, embora que com mais ênfase no período pós-Vaticano I; todavia, o ponto central do argumento final dele é, para mim, um completo non sense.
Em primeiro lugar, não vi nenhuma correlação lógica entre o desenvolvimento do texto e o governo de Bergoglio. Reconhecer a formação de uma rigidez administrativa que se refletiu na vivência da fé é um dado incontestável, mas dizer que Francisco é o primeiro Papa a quebrar com ela me parece puro cronocentrismo. As reformas paulinas foram muito mais impactantes na sua época que qualquer coisa feita pelo Soberano Pontífice atual e, em certo sentido, a segurança jurídica proporcionada pelo legado canônico de São Pio X (Código de Direito Canônico de 1917, regras para a Comunhão, harmonização do calendário, etc.) também proporcionou uma quebra com o tipo de conhecimento esotérico que toda burocracia degenerada adora usar (isto é, regras pouco claras que tolhem a espontaneidade).