Ano: 2013
Candela é o objeto que serve para segurar a vela que, nas Missas pontificais, deve acompanhar o Missal. Tem sua origem, provavelmente, no necessidade de luz para que o Ancião (Bispo) pudesse ler melhor as orações da Missa.
Mais tarde, com o advento do luz elétrica, ficou sem uso prático, restando somente o sentido espiritual (como ocorreu com a maioria dos paramentos, pontificais ou não): mostrar o Bispo como o único que tem o múnus de ensinar na Igreja, pois a luz o acompanha (a Palavra de Deus é a lâmpada a guiar nossos passos, como diz o salmista).
– Karlos Guedes, na Apologética Católica
The Value of Suffering
I once met a Zen-trained painter in Japan, in his 90s, who told me that suffering is a privilege, it moves us toward thinking about essential things and shakes us out of shortsighted complacency; when he was a boy, he said, it was believed you should pay for suffering, it proves such a hidden blessing.
Yet none of that begins to apply to a child gassed to death (or born with AIDS or hit by a “limited strike”). Philosophy cannot cure a toothache, and the person who starts going on about its long-term benefits may induce a headache, too.
Fotos do matrimônio do confrade Carlos Ribeiro seguido de Missa segundo o Missal de 62 na Catedral Santa Terezinha, Diocese de Uberlândia:
Pe. Leles celebra a Missa gregoriana desde o Advento de 2012, mas ainda não havia celebrado outro sacramento no rito antigo.
O homem do direito
Texto do Professor José Luiz Delgado, publicado no Jornal do Commercio (Recife, 12 de novembro de 2013) que traça um perfil ético-profissional de Sobral Pinto:
Não estão somente no passado longínquo os grandes homens. Também nos tempos recentes houve homens assim, notáveis, admiráveis, formidáveis, e até cruzamos com eles, e damos testemunho de sua grandeza. Aquele Sobral Pinto, por exemplo, sobre quem os cineastas estão exibindo imperdível documentário, indispensável para que o conheçam as novas gerações.
Com igual combatividade, igual senso de justiça, igual destemor, igual bravura, poucas personagens, ao longo de toda a história, terá a humanidade conhecido. Sobral Pinto nasceu para brigar, para combater o bom combate, para não se conformar com a arbitrariedade e a injustiça. Nasceu para ser advogado, como os advogados devem ser, implacáveis, indomáveis na defesa dos seus clientes, mas sabendo, como ele mesmo dizia, que o advogado é o primeiro juiz da causa – e não tem, por isso, de defender o cliente a qualquer título, mas, primeiro, lhe mostrará qual a boa justiça do caso concreto, quais os direitos que de fato tem, e aí defendê-los sem cessar, afrontando todas as potestades. Como ninguém, Sobral sabia distinguir as ideias dos clientes dos direitos deles, pelos quais lutava com denodo inexcedível.
O documentário agora exibido dá boa notícia de algumas das principais façanhas de Sobral, na defesa dos injustiçados, tanto judiciariamente quanto mediante as cartas que não cessava de escrever. O caso que deu a ele a maior notoriedade foi, durante o Estado Novo, a defesa dos comunistas Harry Berger e Prestes – este, no início, recusou o seu patrocínio, mas a seguir construiu com Sobral uma das mais bonitas amizades da história, entre homens igualmente bravos mas de ideários opostos. Há alguns anos também foi lançada uma excelente biografia sobre Sobral, de autoria de John W.F. Dulles, mas cobrindo apenas os anos de 1930 a 45: estava o autor trabalhando nos anos subsequentes?
Católico de berço e de fé absoluta e inabalável, é uma glória para a Igreja ter entre seus membros um quixote obstinado e exemplar como Sobral Pinto, que dá ao mundo e aos irmãos de fé a noção exata de como deve ser o comportamento público do católico – com que independência varonil, que desassombro, que absoluta não-subserviência deve arrostar os poderes e as seduções do mundo.
Pesquisando um pouco mais, descobri um diálogo importantíssimo entre Sobral Pinto e Ary Quintela publicado na obra Por que defendo os comunistas:
– Como é que o senhor defendia um inimigo de sua igreja?
– Por uma razão muito simples: o princípio que todo católico tem de seguir é o que está no Evangelho e que Santo Agostinho definiu nessa fórmula maravilhosa: odiar o pecado e amar o pecador. O comunismo nega Deus, afronta Deus. Mas eu compreendo que o comunista fala isso por ser pecador. Nós somos frágeis, logo podemos pecar por fragilidade. Dentro dessa orientação, eu é que estava certo, tanto que, quando se anunciou que eu ia fazer a defesa do Prestes e do Berger, sendo eu a segunda pessoa da Ação Católica Brasileira (ACB) – a primeira era o Alceu Amoroso Lima –, houve muita discussão. Mas eu nunca deixaria de fazer a defesa.
Realmente inspiradora a história desse grande brasileiro católico, todavia estabelecer algum tipo de amizade com um psicopata como Prestes foi um pouco demais.
Quando se trata de falar sobre o pecado de Satanás e dos outros anjos caídos nós sempre ouvimos muitas hipóteses que, devido à falta de argumentação nas suas apresentações, podem até mesmo ser classificadas de “lendas católicas”. Já me falaram que o pecado dos demônios era o de terem apoiado seu líder no intento de tomar o lugar de Deus ou de terem se revoltado após saberem que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade se encarnaria numa criatura inferior, o homem. Como resposta a isso tudo, apresento abaixo um texto recente do confrade Rui num debate na comunidade do Orkut onde ele põe os “pingos nos is” em torno deste tema:
Não houve uma guerra no céu à semelhança das guerras na terra. Isso é uma metáfora. Há coisas que, meditando sobre a natureza puramente espiritual dos anjos, notamos de cara serem impossíveis. Por exemplo, Satanás não desejou o lugar de Deus. Sto. Tomás deixa claro que uma inteligência como a dele jamais desejaria isso, pois, como Thiago explicou muito bem, o anjo mira a essência e não os acidentes. Ora, a superioridade de um anjo sobre outro, e de Deus sobre todos, é essencial e nunca acidental, como é a superioridade de um homem sobre outro. Ascender à posição de outro anjo é, na realidade, deixar de ser este anjo e passar a ser aquele anjo. O homem, por sua vez, deseja ascender a uma posição superior enquanto às suas condições acidentais sem que se destrua o sujeito, e assim também imagina o anjo e Deus como compartilhando das mesmas condições acidentais. Mas isso é um engano da imaginação. Deus e o anjo são essencialmente diferentes, de sorte que, se o anjo desejasse ser outra coisa que não aquilo que é, na realidade, estaria desejando a sua própria aniquilação.
Assim, o pecado de Satanás não pode ter sido querer ser semelhante a Deus em essência, e sim semelhante a Deus naquilo que não estava apto para ser. E, nesse caso, sugere Santo Tomás, ele quis o bem da sua natureza como fim último de sua bem-aventurança, ou, se desejou a bem-aventurança sobrenatural (o que concorda com Sto. Anselmo, que diz que desejou aquilo a que teria chegado se houvesse perseverado), quis alcançá-la pela capacidade de sua natureza, e não pela graça, conforme a disposição divina.
Os demais anjos devem ter tido o mesmo pecado, contudo, como Satanás era o maior deles, ficou sendo-lhes o chefe, o superior no pecado, como também é o superior dos homem que pecam. Mais do que isso, em razão dessa sua superioridade natural, exerceu influência sobre o pecado dos outros anjos, e, se alguém peca sugestionado por outro, como castigo, fica sobre seu domínio, como está em II Pd II,19, “Pois o homem é feito escravo daquele que o venceu”. A que pese a sua soberba, os anjos maus aceitaram essa subordinação a Satanás, pois, com ela, almejavam conseguir a bem-aventurança com suas próprias forças, e, sobretudo, porque, na ordem natural, que foi a razão do seu pecado, estavam já submetidos ao anjo supremo.
Outra coisa: esse pecado de Satanás e dos anjos deu-se como primeiro ato voluntário após a sua criação, sem mediação de tempo entre o primeiro instante de sua criação e o seu pecado. Dado que foi criado bom e de posse da graça santificante, teria merecido o céu com um único ato meritório, como os anjos bons, e se condenado também por único ato de pecado, como Sto. Tomás explica em S. Th., I, q.62, a.5 e q.63, a.5 e 6. Os anjos não precisam de tempo para eleger, exortar ou consentir, logo, os anjos maus também pecaram imediatamente, sugestionados pelo pecado de Satanás, fazendo-o seus próprios os desígnios daquele.
Um tipo psicológico peculiar
Um trecho da entrevista que o cineasta bielo-russo Sergei Loznitsa deu ao Jornal do Commercio (Recife, 25 de outubro de 2013) e que fala de algo que eu já tinha percebido, isto é, a extinção de um tipo humano:
– Em Minha Felicidade, seu primeiro filme de ficção, você contou várias histórias extremamente duras, que vemos como uma crítica à Rússia após a queda da União das Repúblicas Soviéticas. Em Na neblina, ao contrário, você se volta para um momento específico da 2ª Guerra Mundial, a partir de um romance de Vassil Bykov. Como você conheceu o livro e o que lhe despertou para filmá-lo?
– Gosto muito dos livros de Vasily Bykov. Eu li o romance Na neblina em 2000 e imediatamente senti que queria fazer um filme. Bykov descreve um tipo psicológico muito particular – que está quase extinto nos dias de hoje. O personagem principal, Sushenya, é um homem que valoriza a sua honra mais do que valoriza sua vida. Eu tive sorte o suficiente para encontrar essas pessoas em minha infância. Então, de certa maneira, este filme é uma homenagem a esses homens nobres e fortes, ainda que vulneráveis, que eu conheci, há muito tempo, na Bielo-Rússia.
Dessacralização
Hoje li uma notícia sobre como foi o dia de finados aqui em Recife (dia em que quase morri devido a um acidente de trânsito) que continha o seguinte trecho muito simbólico do processo de dessacralização pelo qual passa nossa sociedade (Jornal do Commercio, 3 de novembro de 2013):
Gente como a aposentada Terezinha Lins e Silva, 89 anos, qua anualmente cumprem o rito de visitar o local. Dona Terezinha tinha nove irmãos. Todos morreram. “Estou achando que tem menos gente desta vez. O povo não reza mais, acha que não precisa de Deus. Vim visitar meus irmãos, pais e avós. Meu pai foi um dos fundadores da Faculdade de Medicina”, disse orgulhosa.